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45. História, memória, narrativas e fronteiras de gênero |
Coordenador@s: Janine Gomes da Silva (UNIVILLE), Temis Gomes Parente (UFT) |
Neste simpósio propomos discutir Historia e memória de gênero relacionado aos espaços de fronteiras. Espaços de fronteiras aqui entendido como metáfora, para identificar lugares de encontros entre diferentes comportamentos, lugares de dobras de uma multiplicidade de culturas em disputas. O olhar para a existência de tensões e de hierarquias de gênero relacionadas a Diásporas, Diversidades e Deslocamentos pode se constituir em importante possibilidade de análise para histórias que inferem sobre a multiplicidade de experiências e saberes problematizados em diferentes áreas. Pretendemos refletir sobre como a intertextualidade entre gênero, memória, narrativas e fronteiras propiciam um debate interdisciplinar, estimulando e contribuindo para o desenvolvimento dos estudos de gênero. As memórias de homens e mulheres, presentes nas mais variadas formas de narrar, revelam vivências e experiências singulares. Deter a atenção sobre tais particularidades pode contribuir para análises que pensem a memória como uma das possibilidades de compreender as “marcas de gênero” e a construção de novas subjetividades.
Local: Sala 335 do CFH
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Resumos
24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
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Nívia Valença Barros (UFF), Rita de Cássia Santos Freitas (UFF), Cenira Duarte Braga
Construindo uma universidade - A participação das mulheres
Em nosso cotidiano, concentramos nossos esforços nos estudos de gênero e memória. Inicialmente, estudamos a participação das mulheres na criação da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (assim como do próprio sistema de proteção social no município de Niterói-RJ). A história oral foi a metodologia que possibilitou o acesso a essas falas e, por implicação, a essa história. Contudo, o que essas mulheres nos trouxeram de informação abriu nossos olhos à participação delas mesmas e de outras mulheres (das quais também fomos colhendo histórias) na construção de nossa universidade - e de outros cursos, bem como na aquisição de prédios para a universidade. Assim, este texto objetiva apresentar, ainda que de forma introdutória, essa história e pensar a forma como as mulheres atuaram na conformação desses espaços, ainda que essa presença permaneça em grande parte invisibilizada.
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Janine Gomes da Silva (UNIVILLE)
Narrativas femininas sobre culinária e outros “fazeres”: alguns olhares para o patrimônio cultural
A partir da perspectiva dos estudos de gênero, memória e patrimônio cultural, o presente trabalho pretende apresentar algumas discussões sobre o cotidiano e a culinária de algumas estradas que compõe a região rural da cidade de Joinville, situada no nordeste do estado de Santa Catarina. Esta pesquisa objetiva problematizar, especialmente a partir de memórias femininas como a culinária de algumas estradas, como por exemplo, a Estrada Mildau, (re)significa a história e o patrimônio cultural daquelas regiões. Frente às novas preocupações com a preservação do patrimônio cultural, bem como, da relação entre turismo e cultura, nos cabe perguntar como diferentes moradoras/es vem (re)construindo significados sobre a cidade, espaço por excelência privilegiado para inscrever, cotidianamente, outras narrativas sobre patrimônio cultural.
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Ancelmo Schörner (UNICENTRO)
Quebrando hierarquias: a migração como possibilidade de libertação pessoal
Esta comunicação é parte da pesquisa que desenvolvemos em nosso doutorado, quando pesquisamos a migração de paranaenses para Jaraguá do Sul (SC). Durante a pesquisa observamos que a migração implica, para muitas mulheres, o rompimento com um modo de vida em que família e trabalho estão fortemente baseados na autoridade familiar dos homens, haja vista que nas comunidades rurais eram eles (pais, maridos, irmãos) que distribuíam as tarefas, dirigiam o trabalho e recebiam a remuneração. Para muitas mulheres, assim, a migração era vista como uma forma de livrar-se desta situação. Esposas abandonadas, mães solteiras ou simplesmente jovens insatisfeitas com sua situação familiar podiam encontrar no fluxo migratório uma sonhada perspectiva de fuga de um convívio considerado opressor. Para além da melhoria econômica, tratava-se também de mudar de vida, libertar-se da influência masculina. A migração transforma-se então numa libertação pessoal. Na cidade, muitas permanecem como responsáveis pelo bem-estar e a segurança econômica de seus membros (filhos, por exemplo), o que significa que têm se urbanizar. Assim, quando se transformam em empregadas domésticas, têm que incorporar novos padrões de socialização ligados de modo particular à roupa, limpeza, cozinha e à sociabilidade.
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Heloisa Regina Souza (UFSC)
“Doutoras no assunto”: memórias e histórias de parteiras oestinas
Este trabalho discute os resultados da pesquisa “Memórias de Parteiras: um estudo histórico-antropológico das práticas de nascimento no Oeste de Santa Catarina”. Toma como pressuposto que as relações de gênero são eixos organizadores de relações de poder e procura analisar como se deram as relações entre parteiras, médicos e mulheres no oeste catarinense entre as décadas de 1940 e 1970 em um contexto marcado, simultaneamente, pelo processo de medicalização e pela consolidação do processo de colonização da região. Levando em conta que a colonização demarcou fortemente fronteiras étnicas e posições estruturais no espaço social da região, o estudo procura mostrar as especificidades das experiências de parteiras caboclas e migrantes nesse período, e busca compreender as formas através das quais mulheres e parteiras (re)inventaram, (re)formularam e (re)valorizaram práticas femininas de partejar e cuidar, resistindo, negociando e/ou burlando normas e discursos que as desqualificaram. O estudo se desenvolveu a partir de entrevistas com antigas parteiras oestinas e com mulheres que vivenciaram partos domiciliares com a ajuda destas, além de outros atores sociais que, direta ou indiretamente, estiveram envolvidos no processo de estabelecimento da medicina científica na região.
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25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Maria do Rosário Alves Pereira (UFMG)
A crônica feminina brasileira no século XIX
O objetivo deste trabalho é traçar algumas reflexões em torno do surgimento da crônica brasileira de autoria feminina, mostrando o quanto este gênero serviu como registro histórico da luta feminina pela educação e modernização da mulher. A vinda da família real para o Brasil, em 1808, traz nova vida cultural à cidade do Rio de Janeiro. Ocorre a chegada da imprensa em 1816. O público feminino, acostumado a se enclausurar dentro de casa e de só sair às ruas trajando mantilhas pesadas e escuras que as cobriam literalmente dos pés à cabeça, começa a modificar a moda, a ir à ópera, ao teatro. Inicia-se aí a construção de uma nova mulher, ocupada agora com a vida que a circundava, ao invés de ficar estritamente reclusa ao seio familiar. Isso vai se refletir na escrita, e os primeiros periódicos dedicados às mulheres aparecem nesse período. A crônica assume, desse modo, o mesmo papel que a História, ao se tornar um “lugar de memória”, mais precisamente de uma memória coletiva, como se vê em periódicos como o Jornal das Senhoras, cujo objetivo era “propagar a ilustração, e cooperar com todas as suas forças para o melhoramento social e para a emancipação moral da mulher”, O Sexo Feminino, (1873-1877) e A Família (1888-1889).
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Cecil Jeanine Albert Zinani (UCS)
História e memória na narrativa latino-americana contemporânea
A preocupação com a memória, no sentido de preservação da história e de modalidade de construção da identidade, tem-se tornado um pensamento dominante na contemporaneidade, com expressiva colaboração da literatura. Essa questão torna-se mais evidente quando as obras literárias focalizadas são produzidas por escritoras que se encontram deslocadas do universo que retratam ou que retomam uma experiência de exílio. Nesse sentido, pretende-se discutir a relação entre os conceitos memória e história na constituição da identidade feminina, examinando as obras Romance negro com argentinos, de Luisa Valenzuela, Tropical sol da liberdade, de Ana Maria Machado e Nós que nos amávamos tanto, de Marcela Serrano.
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Taiza Mara Rauen Moraes (UNIVILLE), Gabriela Cristina Carvalho (UFSC)
Memórias de lendas por vozes femininas
Este trabalho relata resultados de uma pesquisa com mulheres joinvilenses com mais de cinqüenta anos, sobre o patrimônio imaterial - resgate de histórias e lendas urbanas vinculado ao projeto “Memórias da cidade... Diferentes olhares para o patrimônio cultural de Joinville”. Ao analisarmos as relações entre gênero e memória, construídas pelo discurso, percebemos a importância cultural das manifestações artísticas na construção da identidade joinvilense provinda de heranças culturais. Resgatar histórias e lendas urbanas sob a ótica feminina significa atribuir às vozes dessas mulheres a autoria de suas próprias histórias. A autoria não está situada na ficção da obra, mas sim na sua ruptura. Bakhtin (1992), admite que a palavra não pertence ao falante unicamente, pois a comunicação se instaura com o olhar do outro: “Tudo o que me diz respeito, a começar por meu nome, e que penetra em minha consciência, vem-me do meu mundo exterior (...) tomo consciência de mim, originalmente, através dos outros”. Portanto, chamar atenção para a preservação do patrimônio intangível, significa mostrar que os modos de pensar e construir narrativas reiteram modos de viver e fazer, caracterizadores da história.
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Ana Maria Marques (UFMT)
Ora femininas ora feministas: narrativas de mulheres na Revista “A Violeta” – Cuiabá, 1916-1946
O trabalho se propõe mostrar o processo de mudança discursiva nas narrativas da revista “A Violeta”, primeiro periódico reconhecido como feminista em Mato Grosso. Um dos objetivos é perceber como as mulheres que escreviam para essa revista eram influenciadas por outras mulheres que representavam modelos e lideranças ativistas e como assimilavam ou resistiam à mobilização e às reivindicações feministas no contexto de modernização e inserção das mulheres no mercado de trabalho e na vida pública – o que requer um olhar sobre as relações de gênero.
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Adriana Oliveira da Silva (UEFS)
Mulheres de elite e associações femininas em Itabuna (1959-1964): relações de gênero e práticas sociais no sul da Bahia
Deslocar-se entre a esfera privada e a pública exigiu da maioria das mulheres a criação e utilização de diferentes estratégias de atuação social. Nas décadas de 1950 e 1960, as mulheres da elite itabunense procuraram estabelecer a ponte entre o mundo doméstico e o meio público através de trabalhos assistencialistas desenvolvidos por meio das Associações de Caridade por elas criados e dirigidos, possibilitando uma atuação social mais autônoma frente aos seus pais e maridos, ao tempo em que essas atividades também lhes rendia a concordância da sociedade diante das suas práticas sociais. Ao mesmo tempo, esses trabalhos pareciam está em consonância com o projeto modernizador aplicado pelo poder público municipal e que visava “limpar” a cidade de “elementos indesejados”, como mendigos e menores desamparados, alvos dos trabalhos das Senhoras de Caridade. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é compreender de que maneira as táticas e os recursos utilizados por essas mulheres contribuíram para alicerçar seu projeto autonomista ao mesmo tempo em que atendiam aos preceitos morais e políticos das instituições de poder de Itabuna da época. Para tanto, foram analisados jornais das décadas de 1950/1960, documentos das Associações Femininas, livros memorialísticos e história oral.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Camila Camargo Vieira (PUC - SP)
Dualidades: as mulheres da comunidade dos Arturos
Este trabalho discute as relações de gênero estabelecidas na comunidade negra dos Arturos, localizada em Contagem em Minas Gerais, a partir da trajetória das mulheres Arturas e suas relações estabelecidas tanto na comunidade como também fora dela, na sociedade envolvente. Apresenta a memória recriada no cotidiano dessas mulheres, tendo como fio condutor as lembranças sobre Carmelinda Maria da Silva, esposa do fundador da comunidade.
Motivada por esta memória busca compreender as prováveis tensões nas quais vivem as mulheres Arturas: do rural com o urbano, do masculino e do feminino, das relações familiares, relações de trabalho dentro e fora da comunidade. A relação da juventude com as gerações mais velhas também manifestam mudanças nas percepções e relações com o mundo e com a própria comunidade.
As mulheres Arturas vivem dualidades e tensões dentro e fora da comunidade. Dentro tem papel preponderante na organização dos festejos do Congado, que são as principais festas que ocorrem em maio e outubro na comunidade. Fazem a comida da festa, os enfeites, preparativos além de dançarem muitas delas nas guardas do Congo e Moçambique. Fora, enfrentam o racismo, discriminação, baixos salários, a realidade da maioria das mulheres negras do Brasil.
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Temis Gomes Parente (UFT)
Vulnerabilidade nas fronteiras de gênero
Segundo Castel a zona de vulnerabilidade é um espaço social de instabilidade, de turbulência, povoado de indivíduos em situação precária na sua relação com o trabalho e frágeis em sua inserção relacional. A nossa apresentação Vulnerabilidade nas fronteiras de gênero é pautada na perspectiva de Castel e tem por objetivo refletir sobre a situação de marginalidade vivenciada por indivíduos, neste caso em sua maioria mulheres adolescentes, nas cidades de Arquianopolis Darcinopolis e Warderladia extremo norte do Estado do Tocantins, região de fronteiras, tanto no conceito tradicional de espaços geográficos como em suas multiplicidades, porosidades e deslocamentos simbólicos de fronteiras. Os sujeitos que pesquisamos se enquadra na zona de vulnerabilidade por estarem inseridos nas relações precárias de trabalho predominante nas três cidades e frágeis em suas relações familiares, contribuindo para o fortalecimento de fronteiras de gênero resultante de um alto indicie de gravidez precoce de adolescentes na região.
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Monica Hass (UFFS)
A agricultora, a vereadora e a pastora: três mulheres e as suas experiências em diferentes espaços de poder
Este trabalho visa refletir a partir da fala das entrevistadas, a experiência de luta de três mulheres, em diferentes espaços de poder. O objetivo é contribuir com o debate sobre os avanços da cidadania feminina e na identificação das razões das dificuldades e resistências em relação à participação das mulheres nos espaços públicos, como movimentos sociais, igreja e instâncias de decisão político estatal, como partidos políticos e o poder legislativo.
A agricultora Rosalina da Silva, 58 anos, casada, moradora da linha Faxinal dos Rosas, em Chapecó, há mais de 20 anos participa do Movimento das Mulheres Camponesas. Da mesma forma como a pastora da Igreja Evangélica Luterana de Chapecó, Silvia Genz, 54 anos, envolveu-se nos anos 80, na luta pelo direito das mulheres agricultoras pela aposentadoria, pela filiação sindical, pelo bloco de produtora rural, pela conta conjunta no banco e enfrentaram várias resistências em relação a sua atuação por parte do governo, da igreja, dos homens e das mulheres. Atualmente Rosalina e Silvia continuam participando de ações que reivindicam diversos direitos das mulheres, bem como a sua libertação. Não é diferente a luta da vereadora Luciane Carminatti, ex-secretária municipal de educação e candidata a vice-prefeita de Chapecó, pelo PT em 2004.
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Juliana Rodrigues de Lima Lucena (UFRPE / Faculdade Lider)
Intelectuais de saias? O questionamento do lugar histórico das mulheres no Recife nos anos de 1955 a 1964
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise sobre o papel do “ser” mulher e a sua relação de poder com os homens na cidade do Recife dos anos de 1955 a 1964, onde as mulheres estariam transitando entre seus lares e os largos da cidade. A partir da atuação de individuas específicas em movimentos políticos e culturais, pretendemos buscar a compreensão das mulheres sobre si mesmas e da possível existência de uma intelectualidade feminina. O cenário é a cidade do Recife onde as discussões sobre novas possibilidades de sociedade, a partir de projetos artísticos e culturais organizados por intelectuais, permeiam o ambiente público da cidade. É nesse ambiente que a contribuição de algumas mulheres, repletas de singularidades, serve como marco no rompimento de costumes conservadores e excludentes. Possibilitando, assim, uma releitura de seu papel enquanto cidadãs capazes de contribuir com sua sociedade e repensar suas relações enquanto esposas, mães, cidadãs e intelectuais participantes da vida pública em meio a uma atmosfera na qual as próprias relações de gênero e poder passaram a ser repensadas.
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Dariela Sharim Kovalskys (Universidad Católica de Chile)
La intimidad en tiempos de individualización: el pánico a la dependencia en las relaciones de pareja
Tras las visibles cifras del desarrollo económico experimentado en Chile los últimos 15 años, parecen ocultos los matices del desarrollo a escala humana. Esta dimensión menos conocida del desarrollo, está ligada a los cambios culturales y sociales, como los progresivos procesos de individualización. Cómo se vivencia la relación de intimidad hoy día en Chile es la pregunta que ha sostenido una investigación que indaga en las tensiones subjetivas entre la individualización, ligada a la autonomía, y el proyecto compartido, ligado a la trama vincular. En otros términos, en el lugar que tiene el otro en la vida y proyecto personal en tiempos que exacerban la autosuficiencia. A través de los relatos de vida de mujeres y hombres adultos, bajo la consigna de contar su historia de pareja, hemos recogido narrativas que revelan experiencias diversas de intimidad. La aparición recurrente de la dependencia del otro como un hecho ominoso es la dimensión elegida para exponer en esta presentación, ésta podría sugerir una distorsión social en la comprensión de la equidad entre los géneros. La dependencia connota aquí sometimiento y no reconocimiento del otro. De ahí el temor que genera especialmente en las mujeres, quienes perciben amenazado todo su esfuerzo de desarrollo personal.
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Francisca Raimunda Nogueira Mendes (UFC)
Memória e tradição no saber-fazer das louceiras do Córrego de Areia
O objeto desse estudo é a produção artesanal de louça de barro do Córrego de Areia, em Limoeiro do Norte, CE. Um olhar mais atento sobre o cotidiano dessa atividade revela as visões de mundo, o imaginário, os arranjos sociais, enfim, a arte de quem a faz. Enquanto modelam seus objetos, essas mulheres moldam as próprias vidas, num processo constante de criação e recriação de seu universo cultural particular, que é transmitido oralmente pela tradição familiar, há muitas gerações. Para ter acesso a tais vivências, apropriar-se das memórias e narrativas das louceiras foi imprescindível. Partindo das trajetórias particulares, pude perceber como o saber artesanal é transmitido de pai para filho, levando em conta as referências do passado.Aproximar-se da louça de barro das louceiras do Córrego de Areia é descobrir que o barro pode gerar muito mais do que belos objetos, vendidos nas feiras, em casa ou instituições governamentais. É deixar-se absorver por elementos como vida, arte, luta, trabalho e família, criados e reelaborados do mesmo modo que as peças de barro são inventadas e refuncionalizadas, diariamente.
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Carolina Dos Anjos Nunes Oliveira (UFPE)
“Pedem o evacuamento das irregulares”: as profissionais do sexo na urbanização de Itabuna-BA (1940-1960)
As transformações no tecido urbano da cidade de Itabuna-BA, a partir da década de 1940, contribuíram para acirrar as disputas territoriais no centro desta urbe. As trabalhadoras do sexo que ali residiam e exerciam os misteres de suas atividades, foram “convidadas” a deixar no centro da cidade apenas memórias. O centro de Itabuna-BA passou a ser representado como lócus do poder municipal e vitrine da pretendida civilização de seus habitantes, neste espaço, só havia lugar para um tipo de sexualidade: a sexualidade consentida do matrimônio. As práticas dessas trabalhadoras, suas atividades mais corriqueiras, tornaram-se alvo de falas pejorativas encontradas nos periódicos, nas correspondências administrativas do município, nos discursos de processos-crime em que tomaram parte e na escrita “científica” do saber médico do período. Nesse contexto, as desigualdades de gênero fortaleceram uma identidade unívoca colada às profissionais do sexo. Elas foram, sobretudo, representadas o reverso da imagem construída/idealizada da mulher/esposa/mãe. Esta comunicação se propõe a problematizar, no processo de urbanização de Itabuna-BA, a disputa de territórios em sua região central, lócus onde as profissionais do sexo construíram suas subjetividades.
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