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04. Anatomias dispersas: Corpo, gênero e tecnologia

Coordenador@s: Lilian Krakowski Chazan (CLAM/IMS/UERJ), Maria Conceição da Costa (Unicamp)
Este ST analisa as relações entre novas tecnologias de monitoramento e controle de corpos e as relações de gênero que perpassam a construção e o uso dessas tecnologias. A difusão de tecnologias de controle e visualização, incluindo monitoramento por imagens, ressonâncias magnéticas, pet e ct, entre outras, colocam em questão a multiplicação dos sítios de controle do corpo em diversos contextos institucionais. Elas sugerem também uma multiplicação do corpo para além do seu suporte material.
A descrição do corpo pela ciência traz as marcas culturais de sua época envolvendo a diferenciação de sexo, gênero e hierarquias de poder. Diversos estudos no campo da biologia, especialmente estudos sobre reprodução humana, quando observados sob uma perspectiva de gênero, apresentam também o feminino como subordinado ao masculino, demonstrando que os preconceitos ou imagens vigentes na cultura de um povo são transpostos e reforçados no campo da ciência.
Neste sentido, para ampliar o debate sobre inovações tecnológicas e gênero, este seminário pretende contar com estudos empíricos e/ou teóricos, quantitativos e/ou qualitativos, sobre inovações tecnológicas e a difusão das mesmas, considerando-se como se constróem-se visões sobre o corpo mediadas pela ciência e pela tecnologia.
Além disso, esse ST busca a contribuição de estudos sobre os processos de biomedicalização decorrentes da difusão das biotecnologias. Os controles sobre o uso de medicamentos envolvem questões sociais complexas como as inovações farmacêuticas, a construção de imagens e novos métodos de análise e monitoramento, a construção social de doenças e o controle sobre o corpo.

Local: Auditório da Eng. Mecânica do CTC

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Ana Cristina Ostermann (Unisinos)
    “Uma perninha pra cada lado e o bumbum bem pra baixo”: indexando gênero em consultas ginecológicas e obstétricas no SUS
    Apesar do crescente interesse na comunicação médico-paciente, no Brasil, estudos que olham para a fala-em-interação enquanto lócus constitutivo do atendimento na saúde ainda são escassos. Mais escassos ainda são os estudos que olham para interações naturalísticas na saúde da mulher. Este estudo investiga como estruturas de ordem macro se traduzem em práticas de ordem micro interacional (Sacks 1992; Speer 2005) ao olhar, em particular, para o uso de diminutivos em consultas ginecológicas e obstétricas que acontecem no Sistema Único de Saúde. 144 consultas gravadas e integralmente transcritas revelaram o uso recorrente de diminutivos por médicos ao se endereçarem às pacientes, principalmente ao conduzirem-nas para o exame de toque (e.g. perninha, bundinha, bracinho, barriguinha, etc). Os resultados indicam uma relação extremamente complexa entre gênero e o uso de diminutivos. Ao serem constantemente endereçadas por meio de diminutivos, as mulheres parecem estar associadas por seus cuidadores a significados ligados à infância e a situações de menor poder. O uso constante de diminutivos pelos médicos em relação ao corpo da mulher cria uma hierarquia de gênero e acaba por infantilizar a mulher adulta, tratando-a como alguém incapaz de decidir por seu corpo e sua sexualidade.
  • Neide Mayumi Osada (Unicamp), Maria Conceição da Costa (Unicamp)
    Biomedicalização, gênero e ciência: conhecimento em circulação
    Este resumo tem como objetivo contextualizar os estudos de gênero e ciência a partir do final do século XX e início deste século, período no qual os estudos relacionados à abordagem pos-colonialistas, biopolítica e inclusão da diferença ganham maior importância na agenda de pesquisa da área. Ao discutir gênero e ciência sob a abordagem biopolítica estamos adotando a definição de Foucault na qual o autor refere-se à crescente preocupação de estados modernos com questões relacionadas à saúde, reprodução e demografia.
    Essas novas diretrizes guiadas por instituições com National Science Foundation, fundação norte-americana de suporte à ciência, levaram à inclusão da diferença nos temas de pesquisa científica e de pesquisa clínica. O resultado disso é a construção da chamada politização da biomedicina e de uma cidadania baseada na biologia (DNA), que em alguns casos implicou na ampliação da discriminação de certos grupos sociais ( associação de certas doenças genéticas ao gênero ou à etnia) em outros a perspectiva a inclusão da diferença permitiu a produção de pesquisa sobre doenças que estavam fora da agenda de pesquisa.
    Com isso, o texto busca analisar os novos estudos e temáticas que passaram a incorporar os estudos de gênero e ciência, além de novas abordagens teóricas.
  • Livi Faro (CLAM/IMS/UERJ), Lilian Krakowski Chazan (CLAM/IMS/UERJ), Fabíola Rohden (UFRGS)
    Homem com ‘H’: a saúde do homem nos discursos de marketing da indústria farmacêutica
    A partir de material de propaganda e divulgação de medicamentos desenvolvidos para o tratamento das chamadas disfunções sexuais masculinas, coletado em etnografia realizada em congresso de medicina sexual, desenvolvemos a análise do discurso de marketing dos fabricantes. Estes discursos não são meramente informativos. Buscou-se evidenciar as crenças e valores que são evocados e difundidos por meio destes materiais publicitários, assim como as representações e ideais de masculinidade e de saúde do homem que norteiam as propagandas. Explicações acerca dos mecanismos de ação dos fármacos se misturam a imagens que evocam ideais de masculinidade, saúde e sexualidade. Em um movimento dialético, estas propagandas, que são dirigidas aos médicos, veiculam novas concepções relacionadas a categorias nosológicas, ao mesmo tempo em que reforçam concepções tradicionais de gênero e sexualidade, constroem um mercado consumidor de tecnologias biomédicas variadas e serviços profissionais voltados para a ‘solução’ das novas ‘patologias’. Desse modo, dinamicamente é delimitado um campo de expertise que constrói, reforça e valida as novas categorias e tecnologias assim produzidas.
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  • Daniela Tonelli Manica (CLAM/IMS/UERJ)
    Contracepção, tecnociência e biopolítica: o caso de algumas pesquisas clínicas no Brasil (1960-1980)
    A proposta dessa comunicação é discutir algumas das diversas tecnologias contraceptivas alternativas à pílula anticoncepcional oral, constituídas ao longo das décadas de 1960-1980, como os contraceptivos injetáveis, a pílula masculina, a vacina contraceptiva, os implantes subcutâneos, dispositivos intra-uterinos, anéis e a pílula vaginal. Partindo de um estudo sobre a trajetória de um médico brasileiro que participou ativamente do desenvolvimento de muitas dessas técnicas, Elsimar Coutinho, proponho discutir algumas das pesquisas clínicas sobre esses contraceptivos realizadas no Brasil, em articulação com instituições interessadas no controle populacional, sobretudo no caso da população pobre e marginalizada dos países em desenvolvimento. Proponho discutir como as técnicas desenvolvidas estavam, neste caso, atreladas à necessidade de reduzir o potencial de controle das usuárias e alcançar, com isso, maior “eficácia”. Alguns efeitos desses contraceptivos também serão problematizados, como a questão da supressão da menstruação provocada por algumas das metodologias que estavam, então, em desenvolvimento.
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  • Tatiana Souza de Camargo (UFRGS), Nádia Geisa Silveira de Souza
    Dos rótulos de alimentos diet e light a um grupo de emagrecimento de uma unidade básica de saúde: discutindo o dispositivo da cultura de supervalorização da magreza
    Brasil: campeão mundial no consumo de medicamentos emagrecedores e no número de cirurgias plásticas estéticas. Instigadas por estes dados, procuramos discutir neste artigo o funcionamento, na atualidade, do que nomeamos de dispositivo da cultura de supervalorização da magreza. Nele, buscamos explorar a idéia do dispositivo como uma rede estabelecida entre um conjunto heterogêneo de discursos, de instituições, de leis, de medidas administrativas, de enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, que possui uma determinada função estratégica. Para isso, apresentamos uma análise de rótulos de alimentos diet e light, a fim de discutirmos as noções de corpo feminino e cuidado de si por eles apresentadas. Em seguida, trazemos a experiência do acompanhamento etnográfico realizado em um grupo de emagrecimento composto por mulheres, organizado em uma Unidade Básica de Saúde em Porto Alegre/RS. Com isso, utilizando o conceito de dispositivo como uma ferramenta analítica, buscamos mostrar as relações existentes entre estas duas instâncias distintas; como seus discursos, proposições filosóficas e morais se reforçam e se reafirmam – fazendo com que a idéia de que magreza = beleza = saúde (e talvez, até mesmo = felicidade) funcione como uma verdade em nosso contexto sócio-histórico.
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  • Fabiana de Brito Pires (UFRGS), Nádia Geisa Silveira de Souza
    Em busca do corpo saudável: o corpo que se ensina no caderno Vida
    Este trabalho trata da análise de enunciados que, ao articularem juventude e beleza feminina, engendram o corpo saudável. Para tanto, examino e discuto matérias veiculadas no Caderno Vida, suplemento semanal publicado no jornal gaúcho Zero Hora, durante o ano de 2009. Autores do campo dos Estudos Culturais, em suas vertentes pós-estruturalistas, que destacam o papel constitutivo das práticas culturais, possibilitam-me considerar tais jornais como pedagogias culturais. A partir dessa perspectiva teórica, que chama a atenção para as relações entre cultura, saber/poder e a produção de sentidos, tenho como propósitos através da análise de enunciados: tecer algumas aproximações entre o cuidado de si, o embelezamento e a “boa” forma da mulher contemporânea; chamar a atenção para as “verdades”, divulgadas na mídia impressa, que regulam a saúde/beleza do corpo feminino ao atuarem como padrão que move para a chamada “busca incessante pelo corpo perfeito” e a constituição das noções de cuidado com o corpo na contemporaneidade – assuntos esses que estão na ordem do dia.


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25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Marko Synésio Alves Monteiro (Unicamp)
    Corpos projetados e redimensionados: arte, corpo, tecnologia
    Este trabalho busca teorizar o corpo a partir de uma reflexão sobre a sua manipulabilidade atual, tornada possível por novas tecnologias. A partir de uma discussão de como o corpo vem sendo teorizado enquanto categoria nas ciências sociais, com destaque para teorias feministas e de gênero, o texto foca o impacto que as intervenções tecnológicas vêm tendo nessas mesmas formulações. As teorias feministas sobre gênero e sobre intervenções tecnológicas traz para o debate importantes inovações a respeito de como conceituar a política das manipulações corporais, seja na reprodução ou em outros âmbitos. Novas tecnologias promovem formas de redimensionamento do corpo e da sua materialidade que carecem ainda de tratamento teórico aprofundado, especialmente em se tratando das possibilidades levantadas pelas biotecnologias, dado que essas manipulações estão perpassadas por relações de poder. O texto conclui com uma reflexão sobre práticas artísticas como mote para a rediscussão teórica do corpo.
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  • Carlos José Martins (UNESP)
    Corpo, gênero e tecnologia no esporte olímpico
    O corpo do atleta olímpico muitas vezes se confunde com os extremos do próprio mundo que o engendrou. Objeto de múltiplas técnicas de intervenção e controle tornou-se uma espécie de complexa “couraça” tecno-orgânica produzida por toda uma engenharia politécnica do rendimento esportivo. Uma mistura de protótipo da racionalidade científica e versão instrumental do homem contemporâneo. Modificações anatômicas, bioquímicas, uso de hormônios sintéticos, etc concorrem para a busca desenfreada pelo aumento do desempenho. Seu último avatar – o doping genético – é uma realidade admitida pelos especialistas. Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as diferentes configurações de corpo, de gênero e de sexo presentes no campo do esporte olímpico. Tal reflexão se fará a partir do estudo de alguns casos emblemáticos que se tornaram públicos, da modificação histórica dos testes de detecção da identidade sexual dos atletas e da polêmica adoção pelo Comitê Olímpico Internacional de medidas autorizando a participação de atletas transexuais em seus jogos a partir das olimpíadas de Atenas 2004. Para tanto, toma o campo do esporte olímpico como exemplo agudo do que se passa em graus diferenciados em outros espaços do campo social.
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  • Patrícia Lessa (UEM)
    Mutatis Mutandis: mulheres que usam testosterona
    Com o surgimento e expansão da indústria fármaco-química os esportes femininos dão um salto na virada dos anos 80. Juntamente com a industrialização dos equipamentos de musculação o uso de esteróides e ergogênicos fez uma grande diferença nas performaces e records. Com ele surgem os exames de verificação de sexo, implantado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) nos Jogos Olímpicos de 1968, no México, que deixaram de ser obrigatórios na edição de 2000, em Sydney, e atualmente são realizados em casos excepcionais. A produção teórica, conceitual sobre a desnaturalização dos corpos foi e, ainda é, um debate feminista de cunho epistemológico, pois diz respeito ao aparato conceitual que aprisiona as mulheres ao seu corpo. Este estudo analisa os discursos do COI e da Federação Brasileira de Culturismo e Musculação (CBCM) sobre o uso de esteróides e ergogênicos por mulheres. O corpo transformado em ‘pura massa muscular’ é o frisson dos heróis americanos, porém entre as mulheres esta é uma novidade polêmica, pois muitas vezes, interpretada como masculinização da forma ‘original’ das mulheres. É justamente a quebra deste mito do corpo originalmente feminino que discutiremos utilizando como alavanca conceitual o ‘corpo cyborg’, de Donna Haraway.
  • Pedro Pinto (CIPsi - Universidade do Minho)
    Sítios de interseccionalidade: ciberpornografia e cartografias do corpo
    Ainda que as tecnologias cibernéticas potencialmente desafiem a rígida dicotomia natureza-cultura, um segmento significativo da indústria ciberpornográfica permanece dependente de um regime monolítico de “natureza” onde sexo, género e raça assumem um papel fundamental. O espectro de “categorias” sexuais apresentadas nos sítios pornográficos mainstream – recorrentemente propostas nas suas páginas iniciais – sugere um mapa biopolítico de discursos dominantes interdependentes, os quais há muito determinam a regulação estética e performativa das subjectividades corporais: a normalização biomédica das práticas sexuais; a invenção colonialista da diferença racial; a genderização dos corpos sexuais por via hormonal e cirúrgica. Posicionando a minha análise nas formas de s(ab)er feministas/queer, pretendo discutir como as páginas pornográficas mainstream da World Wide Web tendem a operar enquanto lugares de intersecção de poderes heteronormativos e raciais. Em particular, cruzando a análise foucaultiana do discurso com a teoria da rede de actores, proponho a desconstrução do arranjo semiótico das “categorias” presentes nos mais visitados sítios pornográficos, expondo-os neste trabalho enquanto corpus biotecnológico de genderização e de produção de “outr@s”.
  • Cynthia del Río Fortuna (Universidad de Buenos Aires/CONICET)
    Sexualidad, técnicas anticonceptivas y biomedicina: entre las pautas reproductivas y los derechos de las mujeres
    En Argentina, en 2006, las prácticas de anticoncepción quirúrgica –ligadura tubaria y vasectomía– fueron redefinidas legalmente como alternativas anticonceptivas disponibles para la población mayor de edad sin otro requisito. Esto obliga a volver la mirada hacia el sistema de salud, como puerta de entrada a los así ampliados “derechos reproductivos”, incorporados anteriormente en la Constitución Nacional. A partid de nuestra experiencia etnográfica en un centro obstétrico de un hospital público de la ciudad de Buenos Aires, este trabajo analiza la modalidad en que los y las profesionales de la salud definen e intervienen los cuerpos femeninos a través de la administración del acceso a la ligadura tubaria, cuya demanda en los servicios públicos es más numerosa y socialmente problematizada que la solicitud de vasectomías. El foco de la reflexión está puesto en las pautas reproductivas y sexuales que informan y reproducen, no sin tensiones, las prácticas biomédicas en torno de esta técnica, que modifica los cuerpos de manera difícilmente reversible. Encontramos que, no obstante su reciente liberalización formal (jurídica), su acceso efectivo está mediado por construcciones sociales que tanto refieren al género como a la clase, de la mano del ejercicio del saber-poder biomédico.

26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Anunciata Cristina Marins Braz Sawada (Fiocruz), Isabela Cabral Félix de Sousa, Lucia de La Rocque (Fiocruz)
    Biotecnologias reprodutoras e utopismo em When it changed, de Joanna Russ
    A literatura de ficção científica (FC) de autoria feminina tem representado e se apropriado de imagens de uma ciência e tecnologia que se encontram a serviço da sociedade patriarcal. As biotecnologias reprodutoras têm desempenhado um papel bastante ambíguo no que tange à arena de estudos de gênero. Por um lado, têm sido denunciadas como ferramenta do patriarcado por grande parte da crítica feminista. Já pelo outro, têm sido encaradas, em um número de obras de FC de autoria feminina, como possibilidades de libertação do corpo da mulher no que concerne à reprodução da espécie; e é justamente nesse cenário onde se encaixa o conto When it changed, de Joanna Russ, de 1975, foco do presente trabalho. No caso dessa obra de FC, as biotecnologias reprodutoras, ao dispensarem a contribuição genética masculina para a propagação da espécie, expressam, de forma utópica, o possível caráter emancipatório dessa esfera de ação. Numa breve comparação com obras de ficção científica feministas mais recentes, fica claro que tal utopismo é peculiar a um contexto histórico e sócio-político bastante pontuado. Assim também pretendemos, com este estudo, ressaltar o papel questionador da ficção científica em relação aos impactos da ciência e da tecnologia no mundo contemporâneo.
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  • Valderiza Almeida Menezes (UFC)
    Discursos sobre contracepção: disputas pelo corpo (Fortaleza-Ceará, 1960-1980)
    O objetivo desta comunicação é refletir historicamente sobre a contracepção medicalizada/científica em Fortaleza - Ceará nos anos 1960-1980. Foi no início da década de 1960 que métodos como pílulas anticoncepcionais e DIUs passaram a ser mais discutidos na imprensa, muitas vezes ao lado de matérias que enfatizavam o crescimento populacional nos países pobres, fato que preocupava os países desenvolvidos.
    Partindo da análise dos jornais em circulação à época na cidade e de revistas médicas, pretende-se pensar os discursos veiculados sobre a limitação de nascimentos, a defesa ou crítica aos anticoncepcionais, a medicalização dos indivíduos, a posição da Igreja e do Estado quanto ao uso dos anticonceptivos e a idéia de mulher presente nas propagandas de anticoncepcionais que se encontram nos Anais e Jornal Brasileiro de Ginecologia. Vale ressaltar que, ao abordarmos a temática aqui proposta, buscamos atentar para as modificações e/ou continuidades nas relações de gênero causadas pelas novas possibilidades contraceptivas e para as tentativas de interferência na autonomia dos sujeitos que esses discursos pretendem estabelecer, principalmente no que se refere ao corpo feminino, que transforma-se no alvo principal dessas discussões.

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  • Aglair Bernardo (UFSC)
    Monitoramento de corpos: entre videoscopias e cãmeras de vigilância
    Dadas as condições de manipulação de imagens que as novas tecnologias oferecem, é possível reconhecer que determinada noção de verdade atribuída à imagem entra em falência, contribuindo para o desaparecimento da idéia de inocência e transparência em relação ao seu processo de construção. Por outro lado, não há como deixar de observar que o emprego de tecnologias imagéticas, visando monitoramento e observação de corpos em vários campos, acabou por reforçar nas últimas décadas o mito da verdade da imagem, por conta do realismo que lhes é atribuído. A comunicação explora, especialmente, as relações existentes entre o emprego de tecnologias de produção de imagens de corpos no universo policial e médico, entendendo a imagem como construção e identificando tais universos como campos estratégicos na produção de determinadas configurações de saber e poder nos dias atuais.
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  • Fabíola Rohden (UFRGS)
    Inscrições de gênero e representações cerebrais: marcas de uma permanência
    Neste trabalho discuto a recorrência da tentativa de descrever em bases naturalizantes as diferenças de gênero por parte da ciência. Como objeto central foi escolhido o cérebro, já que as representações em torno desse órgão podem ser vistas como sintetizadoras do empenho em delimitar precisamente o que caracterizaria homens e mulheres distintamente. Tomo como objeto o contraste entre trabalhos médicos de meados do século XIX e artigos de divulgação científica contemporâneos. A natureza evidentemente distinta em termos formais e cronológicos desses dois tipos de material cumpre a função de reforçar o caráter provocativo da comparação. A intenção é oferecer uma interpretação possível que segue a perspectiva dos estudos de gênero e ciência. O foco prioritário é a intrincada relação entre a produção científica e a hierarquia de valores baseada em uma concepção dualista de gênero que tem caracterizado a nossa sociedade nos últimos séculos.

  • Marina Fisher Nucci (Instituto de Medicina Social - UERJ)
    Qual o sexo do seu cérebro? Concepções de gênero, sexualidade e desvio em pesquisas biomédicas contemporâneas
    Neste trabalho analisamos as definições acerca do gênero e da sexualidade da produção científica/ biomédica contemporânea. Nosso foco é a idéia de “sexo cerebral”, que seria definido durante a gestação a partir da ação de hormônios sexuais pré-natais no útero. Segundo esta teoria, altos níveis de testosterona pré-natal levariam a um cérebro “masculinizado”, enquanto a ausência ou baixos níveis da testosterona levaria a um cérebro “feminilizado”. Tais configurações cerebrais tipicamente masculinas ou femininas, seriam responsáveis pelo comportamento de gênero e orientação sexual. Nesta perspectiva, sexualidades e comportamentos de gênero “desviantes” (como homossexualidade ou transexualidade) seriam “explicados” a partir da configuração cerebral igualmente desviante. Assim, homens transexuais, por exemplo, teriam cérebros “feminilizados” - espécie de “hermafroditismo cerebral” - devido à deficiências do nível de testosterona. Essa busca por marcadores biológicos das sexualidades desviantes parece estar ligada a uma busca ainda mais ampla, a saber, da diferenciação da masculinidade e feminilidade, e de corpos femininos e masculinos. Assim, procuramos refletir sobre a centralidade, na sociedade contemporânea, da vinculação do cérebro e dos hormônios às subjetividades e identidades.
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