67.1 Sexualidades em diversidade |
Coordenador@s: Emerson da Cruz Inácio (USP), Jorge Valentim (UFSCar) |
Tentar definir as formas com que as manifestações de Eros se apresentam constitui tarefa ingrata e praticamente impossível, dada as múltiplas possibilidades de suas representações. A diversidade dos caminhos adotados para a constatação dos impulsos, dos desejos e das reações tem gerado uma gama significativa de veios metodológicos para a pesquisa e a leitura de tal temática.
Sem querer fechar num caminho esquemático para a sua reflexão, a proposta do Grupo Temático é abrir um espaço de discussão e debate sobre as múltiplas rotas eróticas, presentes nas representações literárias, suas redes de diálogos e de convergências.
Se entendermos tais rotas eróticas como manifestações da ordem daquela “sexualidade plástica”, de que nos fala Anthony Guiddens, ou seja, de uma “sexualidade descentralizada, liberta das necessidades de reprodução”, então, poderemos caminhar tanto por uma via de liberdade entre os gêneros e as escolas literárias a que os textos propostos para leitura pertencem, quanto pelas vias de sua representação temática, entendendo-a na linha do hetero e/ou do homoerótico.
A partir de tal premissa, respeitando, porém, os pressupostos teóricos propostos pelos seus leitores, o Grupo Temático expande a possibilidade de um encontro também entre os pensamentos de Freud, Bataille, Guiddens, Alberoni e Foucault, dentre outros, e suas possíveis aplicações nas manifestações literárias, envolvendo as literaturas de língua portuguesa e as íbero-americanas.
Local: Sala 241 do CCE/A
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Resumos
25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Debora Breder (Universidade Cândido Mendes)
A 'sexualidade androide': notas sobre Crash (1996), de David Cronenberg
Desvinculada da reprodução, a sexualidade é investida de novos valores, tornando-se, nas sociedades ocidentais modernas, uma dimensão da vida privada que diz respeito unicamente ao indivíduo e às suas escolhas; uma dimensão caracterizada por sua plasticidade e autonomia, suscetível de ser modelada, transformada; negociada na esfera íntima e, se necessário, mobilizada na esfera pública em reivindicações políticas. Uma sexualidade polimorfa, sujeita não apenas a variações segundo os diferentes estilos de vida, como também – conforme sugerem as narrativas que têm no cyborg, criatura ‘pós-gênero’, uma figura central – ao apagamento simbólico da diferença masculino/feminino. Considerando tal fato, esta comunicação propõe uma reflexão sobre o estatuto do corpo e da diferença masculino/feminino, no imaginário contemporâneo, a partir da análise do discurso cinematográfico. Tomando como ponto de partida o longa-metragem Crash (1996), de David Cronenberg – um filme que versaria sobre a relação entre ‘tecnologia & erotismo’, e cujos personagens manifestariam uma ‘necessidade obsessiva de reinventar a sexualidade e o amor’ – analisa-se o modo como a re-configuração simbólica do corpo, pelas novas tecnologias, vem transformando a sensibilidade moderna no que tange à sexualidade.
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Adriano Henrique Caetano Costa (UFC)
Homem com H: uma etnografia sobre os homens que fazem sexo com homens - HSH na cidade de Fortaleza
A categoria Homens que fazem Sexo com Homens - HSH é entendida como um termo “politicamente neutro”, operando como um acordo entre as agencias internacionais de desenvolvimento e os Estados para que a identificação dos HSH, como um grupo alvo para controlar o HIV/Aids. Trazendo essa discussão para a cultura sexual brasileira é possível um homem fazer sexo com outro homem e não ser, ou não se identificar, enquanto homossexual. Sobretudo no nordeste brasileiro alguns grupos masculinos de diferentes idades se identificam como HSH a partir do momento em que, sendo homem, mesmo adepto de práticas homoeróticas, considera-se heterossexual, desde que em suas atitudes não exerça comportamentos associados as práticas femininas e em uma relação sexual com outro homem desenvolva o papel de “ativo”. Para essa pesquisa estamos buscando trabalhar a partir da (re)construção de “carreiras amorosas” ou “roteiros sexuais”, como sugere Heilborn. Essa ferramenta conceitual tem o mérito de poder cotejar as trajetórias e cenários sexuais distintos, seja pelo prisma de classe, seja pelo de gênero ao mesmo tempo em que possibilita situar o lugar de “ressemantizações” como os chamados HSH e as identificações (ou não) que possibilitam.
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Anette Lobato Maia (UnB)
O insuspeitável- a reabilitação da imagem heterossexual de um ídolo popular
Sobre o conflito com a ordem de gênero muitos trabalhos já foram escritos no Brasil (PELÚCIO, MISKOLCI E BENTO) propiciando debates sobre o caráter essencializador das categorias gênero e sexo. Trabalhos que nos levam a pensar como sujeitos de identidades “fixadas” por imperativos econômicos de grande monta, patriarcais e midiáticos, ao se mostrarem instáveis e desestabilizados em eventos ditos escandalosos, podem ser habilmente 'socorridos' pelas agências heteronormativas, em nome da manutenção da ordem binária que constitui o sistema sexo-gênero. Busco aqui analisar o aparecimento da travesti Andréa Albertini na mídia policial e desportiva após seu encontro tumultuado com o jogador de futebol Ronaldo Nazário em um contexto de prostituição. A análise de conteúdo de matérias jornalísticas feitas com ambos, além de outras notícias a elas correlatas, servirão à análise do potencial desestabilizador desse encontro e do papel que as forças vigilantes da heteronormatividade tiveram na tarefa de reconduzir o jogador ao lugar de homem heterossexual no qual se consagrou mundialmente.
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Guaraci da Silva Lopes Martins (Faculdade de Artes do Paraná)
A homofobia no contexto da arte/vida
O presente texto é um recorte da pesquisa de doutorado realizada no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA, que teve como objeto identificar estratégias pedagógicas no teatro para o desenvolvimento da discussão sobre a problemática relativa ao gênero e à sexualidade. Para tanto, utilizei-me da pesquisa participante com abordagem qualitativa, fundamentada em teorias específicas. A amostra vem do processo de estágio supervisionado com o enfoque nesta temática, trabalhada por alunas(os) estagiárias(os) do Curso de Licenciatura em Teatro da Faculdade de Artes do Paraná – FAP. Esta investigação também envolveu docentes atuantes na rede estadual e municipal da educação de Curitiba e Região Metropolitana. Ainda participaram desta pesquisa outros grupos e espaços em apoio aos direitos da população LGBT. A sexualidade e as suas implicações de poder, devem fazer parte integrante da construção dos currículos escolares, salientando que o amplo campo teórico existente hoje em torno do sexo, gênero e sexualidade é um terreno desconhecido no ambiente escolar.Compreendido como área de conhecimento, o teatro pode contribuir de uma forma efetiva em processos de inclusão de sujeitos com vistas a uma sociedade mais democrática.
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Claudio Ricardo Freitas Nunes (UFRGS)
Labirintos de prazeres - os exercícios de sexualidade num lugar de público adulto
Esta pesquisa, com inspiração etnográfica, pretende investigar práticas homoeróticas e também práticas sexuais entre mulheres e homens na cidade de Porto Alegre, mais precisamente num local central, caracterizado pela oferta diária de espaços e atrativos que acolhem diversificado público adulto. O lugar pesquisado oferece saunas, locadora, bar, pista de dança, shows diários de strippers masculinos, cabines individuais e coletivas para a assistência de dvds locados, reunindo uma parcela expressiva da comunidade gay local, mas também é procurado por homens e mulheres heterossexuais, alcunhando-se como "clube para adultos". Desta forma, "os labirintos de prazeres" acolhem cotidianamente diversas formas das vivências das sexualidades.
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Fátima Regina Almeida de Freitas (UFG)
Bondage, dominação/submissão e sadomasoquismo: uma etnografia sobre práticas eróticas que envolvem prazer e poder em contextos consensuais
Esta reflexão parte de minha proposta para o Mestrado em Antropologia Social na Universidade Federal de Goiás que inicio este ano. O termo BDSM (Bondage & Disciplina; Dominação & Submissão; Sadomasoquismo) une diversas práticas sexuais, tais como: fetichismo, fist fucking, “inversão de papéis” e ponyboy/ponygirl. Refletir sobre práticas BDSM é problematizar sobre como podemos construir e vivenciar jogos de poder, prazer e dor em contextos consensuais, é entender o desejo e o prazer deslocados da genitalidade e muitas vezes dos corpos. Sobre como se pode “brincar” com as identidades de gênero nessas cenas, mas também questionar sobre como construções hierárquicas de gênero muitas vezes são reforçadas aqui. Me proponho a fazer uma etnografia sobre estas práticas no contexto goiano, pois não há pesquisas realizadas no centro-oeste como esta preocupação, e somar estas reflexões há outras já realizadas nas cidades de São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo.
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José Estevão Rocha Arantes (UFG)
Do padre Pelágio ao novo mundo: uma proposta de etnografia dos “banheirões” nos terminais do Eixo Anhanguera
O foco desta proposta de investigação é compreender os elementos simbólicos e discursivos que permeiam as relações de sociabilidade que se dão nos banheiros masculino dos terminais de ônibus da Linha Eixo-Anhanguera, em Goiânia-Goiás. A possibilidade de utilização de banheiros públicos na modalidade “banheirão”, com sentidos e significados peculiares àqueles que se propõe a experimentá-lo, nos possibilita compreender como a sexualidade é (des)organizada a partir de relações de poder que se efetivam sobretudo pelo controle de algumas práticas sexuais (quem, como, quando, porquê e onde se pode) e performances de gênero. Apesar de ter um efeito regulatório sobre o gênero e a sexualidade, a prática do “banheirão” possibilita novas formas de transitar nas marcas/identificações de gênero e orientação sexual, pluralizando seus significados. As possibilidades de práticas sexuais dentro desses banheiros, uma espécie de orgiasmo (Mafessoli, 2004), nos provoca a pensar que aquilo que foi construído a partir de regras e tentativas de normatização das relações de gênero (Preciado, 2009), também permitir a subversão desses modelos e possibilita a instauração de novas formas de sociabilidade.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Tiago Pellim (UFRJ)
Gênero, sexualidade e narrativas como performance: análise de estratégias de posicionamento em narrativas sobre masculinidades não-hegemônicas
Atualmente, uma série de transformações em diversos níveis da vida social tem propiciando novas experiências sociais e de si e, consequentemente, novas compreensões acerca das identidades. Muitos autores destacam que o mundo contemporâneo é marcado pelo pluralismo e pela fragmentação, de forma que a busca dos sujeitos por uma identidade homogênea e estável se tornou uma tarefa constante e, ao mesmo tempo, inalcançável. Nesse contexto, parece ser produtivo pensar nas identidades sociais enquanto projetos ao invés de produtos. Para tanto, os estudos sobre performance podem nos ser úteis, pois nos permitem pensar que estamos o tempo todo performando papéis sociais na infindável tarefa de construção de nossas identidades. Sendo assim, este trabalho analisa as estratégias de posicionamento de um jovem em narrativas sobre relacionamentos gays com ênfase na tensão gays ativos/ masculinos versus gays passivos/ afeminados, sendo que aqui considero as narrativas, o gênero e a sexualidade sob a perspectiva das performances. A análise dos dados nos sugere que, mesmo quando masculinidades não-hegemônicas estão em jogo, o padrão que torna os gêneros inteligíveis é mantido. Tal constatação traz à tona uma série de implicações éticas que serão levantadas durante a apresentação do trabalho.
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Rafael França Gonçalves dos Santos (UENF)
Corpos de passagem?: formas de se fazer travesti em Campos dos Goytacazes
O presente trabalho analisa e problematiza as travestis de Campos dos Goytacazes que, ao subverterem a ordem de gênero, na qual estão pautadas as relações na sociedade ocidental heterossexista, estão sujeitas às sanções sociais, tais como a homofobia.
Dessa forma, a temática oportuniza um aprofundamento dos debates acerca da sexualidade, esta entendida enquanto um arranjo sócio-cultural, não determinada pelos preceitos biológicos, como muitos cientistas insistiram em afirmar.
É válido, portanto, pensar nas várias questões que envolvem o processo do fazer-se travesti; e neste trabalho, privilegiar-se-ão algumas das formas de intervenção sobre o corpo, como o uso de hormônios, aplicações de silicone, cirurgias plásticas dentre outras. Este aspecto desponta como importante, na medida em que está intimamente relacionado à trajetória de vida das travestis, e permite observar, de algum modo, como elas entendem as transformações que realizam em seus corpos.
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Juliana Frota da Justa Coelho (INTA)
Performers trans e boates gays na Fortaleza babado
A homossexualidade, vista sob o prisma psicológico e psiquiátrico, é uma categoria recente que data do século XIX. Inicialmente associada a transtornos da preferência sexual, sua visibilidade tem sido ressignificada, dentre outras formas, pelos espetáculos performatizados por transformistas, travestis e drag queens. Teatros, casas de espetáculos, blocos de carnaval e concursos de beleza têm se mostrado como espaços nos quais a construção da visibilidade das homossexualidades e performances de gêneros não heterossexuais conseguem aparecer também como experiência artística, cavando brechas na estereotipia necessariamente patológica. Em suas performances, colocam na berlinda as concepções naturalizadas de gênero, corpo, identidade e sexualidade. Qual seria a importância de problematizar a (des)patologização de certas configurações de sexualidade e de gênero a partir das performances trans nos espetáculos, com ênfase na capital cearense? Estes podem ser considerados contextos históricos nos quais a visibilidade patológica confronta-se com aquela mais pautada na beleza (porém não menos política), mesmo que a anterior não seja completamente descartada. Esta comunicação diz respeito a um recorte de minha dissertação para o Mestrado em Sociologia, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
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Raphael Albuquerque de Boer (UFSC)
Do amor colorido ao monstruoso: representações de gênero e sexualidade nos filmes "A cor púrpura" e "Monster"
Este estudo tem por objetivo analisar, sobre a perspectiva dos estudos de gênero e feministas, as representações de identidade e de sexualidade das personagens Celie e Aileen, respectivamente dos filmes "A Cor Púrpura" (1985), dirigido por Steven Spielberg, e Monster (2003), dirigido por Patty Jenkins. Na análise estão também incluídas as representações dos relacionamentos homoeróticos entre as personagens Celie e Shug, bem como Aileen e sua namorada Selby. Tais relações são investigadas,
em cenas selecionadas destes filmes, no sentido de mostrar como os elementos cinematográficos (edição, luz, cenários, cores, movimentos de câmera, ângulos símbolos, etc.) estão organizados a fim de retratar associações lésbicas tendenciosas. As conclusões deste estudo mostram que as ligações femininas, entre as personagens citadas, parecem possuir um marca ambígua no sentido em que o desejo lésbico é explicado como conseqüência de maus tratos masculinos.
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