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67. Rotas homoeróticas nas literaturas luso-afro-íbero-americanas

Coordenador@s: Emerson da Cruz Inácio (USP), Jorge Valentim (UFSCar)
Tentar definir as formas com que as manifestações de Eros se apresentam constitui tarefa ingrata e praticamente impossível, dada as múltiplas possibilidades de suas representações. A diversidade dos caminhos adotados para a constatação dos impulsos, dos desejos e das reações tem gerado uma gama significativa de veios metodológicos para a pesquisa e a leitura de tal temática.
Sem querer fechar num caminho esquemático para a sua reflexão, a proposta do Grupo Temático é abrir um espaço de discussão e debate sobre as múltiplas rotas eróticas, presentes nas representações literárias, suas redes de diálogos e de convergências.
Se entendermos tais rotas eróticas como manifestações da ordem daquela “sexualidade plástica”, de que nos fala Anthony Guiddens, ou seja, de uma “sexualidade descentralizada, liberta das necessidades de reprodução”, então, poderemos caminhar tanto por uma via de liberdade entre os gêneros e as escolas literárias a que os textos propostos para leitura pertencem, quanto pelas vias de sua representação temática, entendendo-a na linha do hetero e/ou do homoerótico.
A partir de tal premissa, respeitando, porém, os pressupostos teóricos propostos pelos seus leitores, o Grupo Temático expande a possibilidade de um encontro também entre os pensamentos de Freud, Bataille, Guiddens, Alberoni e Foucault, dentre outros, e suas possíveis aplicações nas manifestações literárias, envolvendo as literaturas de língua portuguesa e as íbero-americanas.

Local: Sala 241 do CCE/A

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Paulo César Thomaz (UnB)
    A desarticulação do gênero: o desejo, o delírio e a loucura em "Teatro" de Bernardo Carvalho
    As manifestações do Eros nos textos do escritor Bernardo Carvalho são mais que simples adornos narrativos. São sobretudo modos discursivos que, sem abrir mão do aspecto inacabado e paradoxal da escrita literária, reivindicam precisamente, no interior do anfiteatro ficcional brasileiro, o caráter maleável da sexualidade humana. Pleno de significados e adquirindo diferentes formas – personagens que transitam por distintos gêneros, por exemplo – esse aspecto nos remete às variantes constituintes do sujeito que jazem em seus espaços mais recônditos. Dialogando com as teorias contemporâneas mais difundidas sobre categorias sexuais e identidade sexual, o romance “Teatro” nos transporta a uma infinidade de diferenças e formas de pensamento existentes sobre a sexualidade. Um campo sexual cambiante, com gêneros que não respondem a uma construção restritiva. É importante assinalar ainda que Carvalho não centra o foco da narrativa no gênero do objeto do desejo sexual de suas personagens, mas nas inúmeras formas de sexualidade que podem ocorrer na contemporaneidade. Nesse sentido, prefere explorar mais que nada suas implicações e conseqüências, variadas e profundas, e o fato da cultura ocidental moderna ter situado a sexualidade numa relação cada vez mais privilegiada com nossas construções
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  • Luciene Marie Pavanelo (USP)
    Além do casamento: a representação feminina na ficção camiliana e macediana
    A ficção oitocentista, ao representar as camadas média e dominante, acabou por marcar o lugar social por excelência da mulher: o de esposa e mãe, ou seja, fadada à instituição do casamento. Camilo Castelo Branco e Joaquim Manuel de Macedo, assim como a maioria dos autores portugueses e brasileiros de sua época, também fizeram do casamento o seu principal tema, que perpassa grande parte de suas produções literárias. No entanto, em algumas de suas obras é possível vislumbrar outros caminhos para as mulheres, seja através da emancipação pelo trabalho e pela escolha por uma vida solteira e independente, seja através da sugestão de uma paixão homossexual entre personagens femininas. Além disso, destaca-se nesses romances a figura de uma mulher forte, determinada e responsável não apenas pelo seu próprio destino, como também pelo destino de outros personagens e até mesmo da nação. Enfim, é nosso objetivo mostrar como Camilo e Macedo quebraram certos paradigmas oitocentistas, ao proporem a suas personagens femininas alternativas ao casamento heterossexual, representando mulheres fora dos padrões de comportamento impostos pela sociedade.
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  • Jorge Valentim (UFSCar)
    Entre soldados e exilados: amores clandestinos e aventuras homoeróticas na ficção de Álamo Oliveira
    A partir das concepções teóricas de Eve K. Sedgwick sobre homossociabilidade e de Karl Posso sobre as ligações entre homossexualidade e exílio, a presente comunicação tem como objetivo propor uma leitura da ficção do escritor português e açoriano Álamo Oliveira, privilegiando a temática homoerótica sob o signo dos vínculos homossociais e das aventuras ostracistas.
    Considerado uma das primeiras investidas sobre a representação da guerra colonial em África, sublinhando as relações possíveis entre soldados portugueses, o romance Até hoje (memória de cão), publicado em 1985, passou quase despercebido pela crítica portuguesa da época. Com uma narrativa tocante, o autor ancora em temas fulcrais para se repensar a própria condição do ser português e ser homossexual em terras lusas, sem descartar aspectos pertinentes à sua condição de sujeito ilhéu e açoriano. Desta forma, a guerra colonial portuguesa em terras da Guiné e suas vicissitudes, a relação existente entre soldados isolados de comunicação com a metrópole e a força do exílio são alguns dos elementos abordados ao longo de uma ficção tocante e sem subterfúgios.
  • Marcelo Spitzner (UFSC)
    De invertido a Queer: as representações das homossexualidades na literatura brasileira
    Este trabalho pretende apresentar uma análise das formas de representação dos sujeitos orientados homo-afetivamente e suas performances, investigando a construção de identidades a partir das narrativas de Caio Fernando Abreu, João Gilberto Noll e outros que intersectam com a temática da homossexualidade, na busca de compreender se, de fato, houve uma substancial mudança nas formas de representar a homossexualidade masculina ao longo do século XX e, se, em relação a obras como O Bom-crioulo, a literatura contemporânea pode ser considerada mais permissiva ultrapassando os limites da apropriação limitada do tema a simples metáfora de degeneração em discursos moralistas. Através da articulação da Teoria Queer e dos Estudos Feministas, da Análise do Discurso (Foucault), da Análise da Narrativa, dos conceitos de posicionamento e alinhamento e de estigma procura-se ainda perceber que identidades, masculinidades e relações são possíveis ao deslocar ou manter a matriz cultural de inteligibilidade que estabelece uma relação mimética sexo-gênero-prática sexual.
  • Flávio Pereira Camargo (UFT)
    Homoerotismo e violência em "Terça-Feira Gorda", conto de Caio Fernando Abreu
    Em “Terça-Feira Gorda”, conto de Caio Fernando Abreu, incluído na coletânea Morangos mofados, cuja publicação data de 1982, o narrador protagonista apresenta ao leitor uma narrativa na qual irá relatar sua experiência homoerótica com outro homem, que conheceu em uma bela noite de Carnaval. Trata-se de uma história com valor de verdade, devido ao caráter de testemunho de quem a vivenciou e, posteriormente, recorda os fatos que lhe ocorreram. A linguagem utilizada pelo narrador é extremamente poética e revela-nos, em um tom ao mesmo tempo confessional e memorialístico, a dor da perda do outro, resultado da violência que ambos sofreram ao romper as fronteiras heteronormativas.
    O que verificamos nesse conto é que há uma crítica em relação ao preconceito e à repressão sexual sofrida pelos dois personagens homossexuais cuja relação homoerótica desperta o ódio e a violência que causam a morte de um deles. Eis o que nos propomos examinar e evidenciar nesta comunicação.

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  • Ana Luísa Patrício Campos de Oliveira (USP)
    Figurações da masculinidade no século XIX: os “leões” balzaquianos e camilianos
    Ao observarmos os cânones literários de Honoré de Balzac e Camilo Castelo Branco, autores fundamentais para uma compreensão aprofundada da literatura oitocentista francesa e portuguesa, e refletirmos acerca da questão do gênero masculino e de suas representações, notamos a presença de algumas figurações recorrentes: os avaros, os arrivistas, os poetas, os trabalhadores e os “leões”. Este último tipo – que podemos definir como personagens masculinos jovens, belos e elegantes cujo poder de sedução exerce uma atração irresistível e perigosa, visto que o objeto atraído, sendo ele uma personagem masculina ou feminina, muitas vezes, por não resistir à sedução sofre com as conseqüências de seus atos – torna-se deveras interessante de ser analisado mais aprofundadamente, pois seu poder de atração torna-se, em muitas narrativas balzaquianas e camilianas, o ponto chave de numerosos romances.
    Assim posto, propomo-nos neste artigo a debater a questão do gênero masculino presente em algumas narrativas balzaquianas e camilianas, especialmente no que concerne à figuração dos “leões”, personagens que, ao exercerem um poder fatal de sedução, seja ela por via hetero ou homossexual, findam por tornarem-se pontos centrais de diversos romances nascidos das penas de Balzac e Camilo.

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  • José Mariano Neto (UFPB)
    Os afetos masculinos em Caio Fernando Abreu: a amizade homoerótica entre homens como constituição das subjetividades
    Por que falar de afetos masculinos e não de afetos humanos, já que os homens são uma categoria enquadrada em um conceito amplo e diversificado que envolve as mulheres também? Trata-se de uma escolha deliberadadamente ideológica: os afetos entre homens não pretendem a circulação das emoções e sentimentos heteronormativos; eles avançam ou ensaiam um alargamento e distensão de modelos impostos de sentir e experimentar a afetividade, como forma de constestação das institucionalizações afetivas e até mesmo como uma maneira de reinventá-las. Talvez – a condição de probabilidade é algo que marca quase todas as relações entre homens gays –, os amores masculinos, os amores entre um e outro homem só possam constituir-se à base da camaradagem, do afeto divertido e com promessas de diversão, de outros sentimentos, na verdade, todos eles, balizados por uma afeição saborosamente estranha e prazerosa de cumplicidade. E é condição e a própria experiência de provisoriedade, de sentido, compreensão e de um sentir que não se deixam congelar, mas fluir, como é próprio da experimentação do novidadeiro, da singularidade, do êxtase da inauguração, da invenção, enfim, da criação de possibilidades existenciais (DERRIDA, 1994, 2003; FOUCAULT, 2004; ORTEGA, 1999, 2000, 2002; et al).
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  • Adenize Aparecida Franco (USP)
    O filho da mãe, de Bernardo Carvalho: rotas entre o espaço e o corpo
    A produção literária de Bernardo Carvalho inscreve-o dentro da lista dos principais autores da atualidade. Reconhecido por romances como Nove Noites e Mongólia, o autor é nomeado, segundo Manuel da Costa Pinto, como “o escritor das identidades instáveis”. Com uma obra marcada por traços da cultura pós- moderna como a diluição das fronteiras de tempo/espaço e, também, das identidades cambiantes, seus romances corroboram a ideia de que o deslocamento configura as identidades desse período. Nesse trabalho, focalizamos sua última publicação, o romance O filho da mãe (2009) que, caracterizado pelo drama das mães que perdem seus filhos para a guerra, transpõe as fronteiras periféricas na própria narrativa ao atribuir ao casal Ruslan e Andrei o papel centralizador da trama. Desse modo, é possível perceber uma narrativa que se adentra a um viés homoerótico – já antevisto por alguns críticos da obra de Bernardo Carvalho – como permite, ainda, considerarmos os elementos corpo e espaço refletores de uma categoria identitária que marca os dois personagens.
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25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Nelson Eliezer Ferreira Júnior (UFCG)
    Eros epifânico: o desejo homoerótico infantil em Antes que anochezca
    Em Antes que anochezca, relato autobiográfico de Reinaldo Arenas, as imagens evocadas da infância em uma Cuba pré-socialista ilustram predominantemente um ambiente campestre onde o erotismo é apresentado em seu aspecto corriqueiro e cotidiano. As descobertas e práticas eróticas do narrador – associadas aos animais, às plantações, aos rios, à escola e ao ambiente familiar – estão atreladas a um espaço aparentemente distante dos discursos moralistas que utilizam argumentos religiosos ou científicos, por exemplo, para desqualificar o desejo homoerótico. É nesse paraíso periférico que o eu autobiográfico de Arenas, a partir dos seis anos de idade, vai se tornar um sujeito de seu próprio desejo, gerando assim uma tensão entre esta e a imagem recorrente na atualidade da criança vitimizada sexualmente por adultos. Nesse sentido, em Antes que anochezca, pode-se observar a memória sendo utilizada não em busca de uma justificativa causal da homossexualidade a partir de circunstâncias na vivência infantil e sim para reencontrar, na situação crítica da morte iminente, um momento sublime de revelação e êxtase dos sentidos.
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