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34. Gênero e religião: tendências e debates

Coordenador@s: Carolina Teles Lemos (PUC - GO), Sandra Duarte de Souza (Universidade Metodista de São Paulo)
O objetivo desse seminário temático é o de propor discussões de pesquisas que envolvam a articulação entre gênero e religião, buscando analisar as implicações de gênero dos sistemas simbólico-religiosos que informam as/os fiéis e as instituições sociais de maneira geral. A religião, mesmo em um contexto secularizado, ainda se mostra como um importante sistema de sentido na conformação das subjetividades masculinas e femininas. Seu poder normatizador e regulador tem sido frequentemente discutido no âmbito dos estudos feministas. Por outro lado, as ortodoxias religiosas se deparam com a heterodoxia da vida cotidiana dos sujeitos religiosos, o que relativiza significativamente o poder regulador das instituições e dos sistemas de sentido religiosos. O ST acolherá propostas de comunicações que discutam os câmbios ou continuidades do discurso religioso acerca dos papéis sociais de sexo num contexto de redefinição das identidades de gênero. São bem-vindas propostas que articulem gênero e religião na discussão da violência, seja ela doméstica, urbana, nas instituições religiosas, nas relações de trabalho; na discussão da diversidade sexual; da bioética; da laicidade; da política dentre outros.

Local: Sala 324 do CFH

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Robson da Costa de Souza (UFRJ)
    A família evangélica em face dos processos emancipatórios modernos
    Pretende-se relacionar o processo de secularização instaurado pela modernidade tardia com o deslocamento do lugar social das religiões. Acredita-se que a secularização favorece o declínio geral do compromisso religioso, possibilitando, paradoxalmente, no contexto dos grupos religiosos, o fortalecimento das práticas discursivas extremamente conservadoras e tradicionais acerca da família. Em seguida, procuraremos analisar a questão da privatização da experiência religiosa. Na modernidade, a vida familiar, a experiência religiosa e a sexualidade foram alocadas no mundo privado. Além disso, a combinação desses elementos no contexto da vida privada é fonte de constantes tensões, possibilitando, também, o reforço de diversas representações sociais tradicionais, tais como: mulheres submissas; maridos amorosos; filhos obedientes; pais responsáveis. Finalmente, levando em consideração os princípios cosmológicos do “subjetivismo” e do “naturalismo”, hegemônicos na sociedade moderna, procuraremos relativizar a importância dos preceitos religiosos no cotidiano dos sujeitos sociais, pois encontramos elementos que apontam para uma gestão da vida privada relativamente independente dos ditames religiosos, mesmo durante os períodos de intensa adesão.
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  • Carolina Teles Lemos (PUC - GO)
    Catolicismo, construção e manutenção de representações sociais sobre a AIDS
    Faz-se uma busca sobre a presença das idéias religiosas oriundas da tradição judaico-cristã sobre a construção de uma concepção funcional da sexualidade restrita à procriação, trazendo consigo a culpa e a punição às práticas sexuais que não se inserem nessa perspectiva; Verifica-se a permanência dessas idéias nos pronunciamentos oficiais da Igreja Católica no Brasil, quando se referem à AIDS, bem como a incidência delas nas representações sociais da AIDS e no enfrentamento desta para portadores do HIV. Entende-se, com Foucault que a doutrina de domínio da sexualidade, que inicialmente foi criada para os monges, mais tarde, passou a ser indicada a toda população. Este fator contribuiu para que nas sociedades ocidentais se criasse uma visão negativa da sexualidade. Também Rubin afirma que tabus religiosos e formas de controle da sexualidade desenvolvidas pela psiquiatria e pela medicina criaram uma fronteira imaginária entre o sexo bom, saudável, maduro, santo, legal e politicamente correto; e o sexo mau, perigoso, psicopatológico, infantil, condenável e obra do diabo. A fronteira imaginária parece levantar-se entre a ordem sexual e o caos. No caso do Brasil, nem a gravidade da presença da AIDS fez com que a Igreja Católica revisasse sua concepção funcional da sexualidade.
  • Ofir Maryuri Mora Grisales (Universidade Metodista de São Paulo)
    Entre a tradição religiosa e a cultura secular: o discurso protestante sobre o corpo e as práticas de suas “fiéis” na cidade de Cali-Colômbia
    As mulheres protestantes da cidade de Cali-Colômbia, inclusive reproduzindo nos seus corpos os princípios da sua tradição religiosa, se deparam hoje com discursos e exigências éticas que nem sempre conseguem ou aceitam articular na sua prática cotidiana. Assistimos na atualidade a uma tensão evidente entre a ortodoxia Cristã e o imaginário e prática das mulheres cristãs a respeito da corporeidade. Nas últimas décadas a forma de assumir o corpo por parte das mulheres reflete incongruências em relação à matriz doutrinaria do sistema religioso protestante, o que é decorrente, por um lado, da influência cultural e midiática na promoção de uma nova representação do corpo feminino, baseada na beleza e na juventude, e por outro lado a cada vez maior relativização do poder religioso numa sociedade secularizada. A mulher cristã acha-se em meio aos ideais do corpo puro e regrado da sua instituição religiosa assim como às cobranças midiáticas e aos padrões estabelecidos pela sociedade moderna. Em ambos os casos, o corpo da mulher aparece como o foco do controle e da submissão, é um corpo que visa ser domesticado culturalmente para servir aos interesses de terceiros.
  • Sandra Duarte de Souza (Universidade Metodista de São Paulo)
    Mobilidade religiosa entre mulheres evangélicas: motivações de gênero
    O enfoque dessa comunicação se dá sobre a discussão do trânsito religioso experimentado por mulheres evangélicas, suas motivações e as implicações dessa “andança religiosa” para o nível de compromisso que estes estabelecem com as instituições religiosas. Analisaremos as motivações de gênero que envolvem a mobilidade religiosa e a precariedade do engajamento de mulheres e homens com as instituições religiosas e seus sistemas de crenças. Em pesquisa de campo realizada em São Paulo para identificar a ocorrência do trânsito religioso junto a um universo de 300 sujeitos que se autodeclaram evangélicos, a significativa movimentação do contingente feminino nos chamou a atenção. Isso nos levou à pergunta pelos motivos que envolvem a peregrinação religiosa das mulheres, se eles estariam ou não associados às representações de gênero presentes na sociedade. Daí derivou um segundo questionamento: em que medida o trânsito religioso enfraquece o poder regulador da religião sobre o cotidiano das mulheres?
  • Lídia Maria de Lima (Universidade Metodista de São Paulo)
    Entre o amém e o axé - O trânsito religioso de mulheres entre o protestantismo e as religiões afro brasileiras
    Há décadas é possível observar o declínio das religiões afro brasileiras em pesquisas que revelam o perfil religioso dos brasileiros. Porém, não podemos ignorar que o candomblé e a umbanda são religiões antigas e que ambas apresentam grandes contribuições para o estudo das religiões no Brasil.
    A intolerância religiosa, o preconceito e o crescimento constante dos pentecostais e neopentecostais são fatores que contribuem para o declínio destas religiões, além da influência da modernização e dos fatores do mercado religioso. Nem mesmo sincretismo tão presente e tão útil aos praticantes das religiões de matrizes africanas foi capaz de impedir a perseguição e a intolerância com estas religiões. Entretanto, na atualidade é possível identificar um trânsito religioso mais intenso no cenário religioso brasileiro e isto também tem atingido os terreiros de umbanda e candomblé.
    Este trabalho visa analisar o fenômeno do trânsito religioso, nas religiões de matrizes africanas observando principalmente a presença de mulheres que outrora transitaram (ou participaram ativamente) em cultos protestantes, identificando suas motivações e a atuação das mesmas nestes grupos religiosos. Tendo como campo de pesquisa as cidades do ABCD paulista (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema).

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  • Emerson Roberto da Costa (UMESP)
    Livre mercado: motivações de gênero para o trânsito religioso e a recomposição das formas religiosas na Igreja Evangélica Assembléia de Deus, em São Bernardo do Campo
    O campo religioso contemporâneo, diante das mais variadas ofertas, tem apresentado intensa mobilidade religiosa. Os sujeitos religiosos, a partir de suas próprias demandas e combinações simbólicas, transitam nas mais diversas expressões religiosas apropriando-se de elementos que atendam suas necessidades provocando uma movimentação incessante estabelecendo uma nova configuração dos grupos religiosos, num processo de ressignificação contínua. A partir dos postulados das ciências da religião, essa pesquisa propõe-se a analisar esse evento tendo como universo de análise a Igreja Evangélica Assembléia de Deus, em São Bernardo do Campo, objetivando demonstrar, mediante a análise do conjunto de dados obtidos em instrumento de pesquisa, uma conexão entre os elementos indicadores da pesquisa e o fenômeno caracterizado para identificar quais são as motivações de gênero para o trânsito de homens e mulheres que circulam das diversas alternativas para esse grupo religioso e, a partir desse referencial, compreender os contornos que essa relação estabelece indicando os novos padrões religiosos desenvolvidos a partir desse fluxo.

25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Maria Regina Azevedo Lisbôa (UFSC)
    A "batalha espiritual" na Assembléia de Deus: uma metáfora das relações de gênero
    Uma das novidades constatadas pelas pesquisas no campo da religião é o crescimento de grupos religiosos cuja cosmologia é sustentada na rígida dicotomia entre o bem e o mal. Os maiores representantes desses grupos são os pentecostais que, personificando o mal na figura do demônio, justificam a existência de dogmas morais centrados, principalmente, nas áreas da sexualidade e das relações de gênero. A dicotomia bem e mal fica subordinada a uma batalha que a envolve: o que é do "mundo divino" com o que é do "mundo terreno".
    A minha proposta nesta comunicação é refletir sobre como esta cosmologia se atualiza na Assembléia de Deus, através da pesquisa que realizei com membros de uma grande igreja desta denominação, aglutinadora de muitas outras na cidade de Brasília. As concepções de gênero reafirmadas ou negadas pelos assembleianos no que está definido como 'divino' ou 'mundano', as estratégias utilizadas por eles para vencer a batalha, o que esta luta fala dos conflitos vivenciados e da sua vinculação com o ideário individualista, alvo de medo e atração para os assembleianos que pesquisei. Neste processo, são apontadas as tendências do grupo romper ou não com os tradicionais lugares reservados para homens e mulheres na Assembléia de Deus.

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  • Valéria Cristina Vilhena (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
    Resultados de uma pesquisa: uma análise da violência doméstica entre mulheres evangélicas
    A violência contra as mulheres é um fenômeno social preocupante mesmo no contexto contemporâneo. No Brasil, no final da década de 80, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que 63% das vítimas de agressões físicas ocorridas no espaço doméstico eram mulheres. Uma prática social, um tema desafiador, que por vezes, em muitos espaços e lugares, inclusive nos religiosos, não inquietam o bastante, e nem fomentam uma discussão mais intensa e rigorosa.
    A comunicação proposta pretende analisar, em perspectiva sociológica, como as representações religiosas de gênero das mulheres evangélicas atendidas na Casa Sofia, estruturam suas próprias vidas para lidarem com a questão da violência sofrida no espaço que deveria ser o lócus do afeto, do desenvolvimento da confiança, da auto-estima, e que é antagonicamente transformado, principalmente para as mulheres e crianças, no local para o qual não gostariam de voltar.
    O que pensam e o que sentem essas mulheres? São de fato cúmplices da violência sofrida? Por que resistem em denunciarem seus parceiros agressores e não rompem ou demoram tanto tempo para romperem relacionamentos violentos? Em que medida sua inserção religiosa está relacionada com essa situação de violência?

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  • Nilza Menezes Lino Lagos (Universidade Metodista de São Paulo)
    As tensões de gênero na pertença dos orixás
    O Presente trabalho parte da nossa observação em algumas casas de religiosidade afro-brasileira, na cidade de Porto Velho, RO, onde percebemos um número extremamente maior de adeptos/as pertencentes aos orixás femininos Oxum e Oya com relação aos pertencentes a Yemanjá ou Nanã. Buscamos analisar questões de gênero estabelecendo uma relação entre as características dos orixás e as pessoas pertencentes aos mesmos. O trabalho tem se desenvolvido com a observação dos rituais, das casas religiosas e entrevistas semi-estruturadas com adeptos e adeptas.
  • Sonia Maria Giacomini (PUC-Rio)
    Gênero, religião e poder: a experiência de liderança das sacerdotisas da umbanda e do candomblé num projeto de pesquisa
    Em maio de 2009, respondendo a solicitação de sacerdotes e sacerdotisas do candomblé e da umbanda, o NIREMA/PUC-Rio (Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente da PUC-Rio) deu início ao Projeto Mapeamento de Casas de Religiões de Matriz Africana no Rio de Janeiro, com apoio da SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). Para a condução deste projeto, constituiu-se um conselho integrado por estas lideranças religiosas, que se autonomeou Conselho Griot, com o objetivo de assessorar e acompanhar a realização do projeto. Esta comunicação analisa o processo de tomada de decisões neste Conselho, focalizando as formas de exercício da liderança pelas sacerdotisas, bem como as bases de sua autoridade e legitimidade.Material etnográfico colhido ao longo das reuniões do Conselho Griot e entrevistas permitem identificar e discutir: a) as maneiras como se combinam as identidades de gênero, de raça e de religião; b) as características bastante peculiares deste tipo de liderança; c) o lugar ocupado pela corporalidade e sexualidade, que, como já apontado pela literatura antropológica, ocupam lugar de destaque e se afirmam de formas muito distintas daquelas que são hegemônicas no universo religioso cristão.
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  • Laila Rosa (Fundação Pierre Verger)
    “No terreiro predomina mais a mulher, por que a mulher tem mais carisma”: música, gênero, raça, sexualidade e cotidiano no culto da Jurema (Olinda, PE)
    Este trabalho pretende discutir parte da minha tese de doutorado que propôs uma perspectiva feminista no campo da etnomusicologia a partir do estudo de música no contexto da Jurema, religião afro-indígena praticada num terreiro de culto aos orixás de nação Xambá.
    A partir de dados etnográficos serão discutidos alguns dos princípios teológicos e da importância da música, assim como, aspectos da experiência religiosa diretamente relacionados a questões de gênero, raça e sexualidade.
    Em relação aos universos religioso e musical serão abordados os idiomas de pureza sobre o corpo feminino e a divisão sexual do trabalho, fatores que juntos (re)elaboram e re-significam relações patriarcais de gênero, onde o conceito de matrilinearidade combinado ao de matrifocalidade traz importantes contribuições para compreender este universo feminino majoritariamente negro.

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  • Estela Martini Willeman (PUC-Rio), Guiomar Rodrigues Oliveira de Lima (UNIABEU - Centro Universitário)
    Candomblé no Brasil: traçando uma nova geografia social de gênero, raça e classe a partir de uma proposta de sociabilidade outra
    O presente trabalho tem por propósito resgatar as origens do preconceito e da discriminação de gênero, raça e classe, para observar seus reflexos no campo religioso dentro do Brasil bem como as formas de resistência efetuadas por estes grupos alijados das condições materiais e simbólicas de produção e reprodução desde os primórdios da formação social do país.
    Através do tratamento de aspectos da diáspora africana no Brasil e da análise de inspiração etnográfica com foco empírico em uma das casas de candomblé mais tradicionais e respeitadas do Rio de Janeiro, O Ilê Omiojuarô, matriz e exemplo para várias outras, com representatividade nacional e internacional e situada no município de Nova Iguaçu – Baixada Fluminense - RJ, pretendemos trazer para a discussão política e teórica os discursos e práticas construídos por este povo que ousa propor uma nova geografia social e uma nova práxis em busca de reconhecimento e dignidade.

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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Geraldo Pieroni (UTP)
    Religião e gênero: a Inquisição e as mulheres acusadas de bigamia banidas para o Brasil
    O texto propõe analisar o papel da Igreja na sua expressão exegética a respeito da sacralidade do matrimônio e como a população em geral, sobretudo as camadas populares, entendia a manifestação e proliferação da bigamia em Portugal na época da Inquisição. Por constituir um crime, a punição para estes infratores consistiu no banimento. Somente depois de dialogar com o documento (geralmente um processo inquisitorial) pude perceber que além das decisões jurídicas oficiais, as fontes revelavam também comportamentos, angústias e medos existentes na vida cotidiana destas rés. Conhecê-las significa tirá-las do anonimato. Desta forma as bígamas condenadas pela Inquisição passam a ganhar um lugar na História. As mulheres aqui estudadas não são apenas heterodoxas. Elas foram vítimas da exclusão social típica das legislações do Antigo Regime numa época caracterizada pelo "compellere intrare", ou seja, a harmonia da sociedade dependia do reto cumprimento das leis. Estas mulheres possuem um nome, uma origem, uma história inserida no tempo e no espaço. A penalidade a elas imposta faz parte de um rigoroso sistema legislativo denominado na época como “degredo” e este castigo foi amplamente utilizado pelos juízes desde o estabelecimento do Santo Ofício em Portugal, em 1536.
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  • João Irineu de França Neto (UFPB)
    Rezadeiras e rezadores da Paraíba: uma problemática de gênero na religiosidade popular
    O presente trabalho tem a finalidade de discutir a problemática de gênero nas práticas da religiosidade popular, especificamente nas práticas de rezadeiras e rezadores do Estado da Paraíba. Entendendo que a religiosidade popular não se limita aos dogmas e normatismos da Religião Oficial, em virtude de sua tradição de oralidade, analisamos o fenômeno das rezadeiras e rezadores no que se refere às inversões de autoridade e gênero, se configurando como transgressões à hierarquia eclesiástica da Religião Institucional. Utilizamos a pesquisa de campo, de caráter etnográfico, na construção de nosso corpus. Delimitamos como referencial teórico os pressupostos sobre História da Igreja na América Latina, de Eduardo Hoornaert, bem como os estudos etnográficos da religiosidade popular, de Luís da Câmara Cascudo, além da categorização de gênero, teorizada por Homi Babha e Stuart Hall. A principal contribuição da pesquisa consiste em dar visibilidade acadêmica e social aos sujeitos históricos, fazedores de uma cultura religiosa, que marca uma identidade local no Nordeste Brasileiro.
  • Vera Irene Jurkevics (UTP)
    Virgem Maria: paradigma da “superioridade espiritual feminina”?
    O culto mariano, fenômeno de longa duração, transcendendo o discurso oficial da Igreja, tem suscitado, nas últimas décadas, interessantes investigações em diversos campos de saber. Nesse sentido, este trabalho visa analisar, tanto o papel que o culto mariano ocupa na esfera institucional, concebido como essência, vocação e/ou salvação, quanto seu desenvolvimento à margem do âmbito dogmático. Investigar qualquer aspecto do universo religioso, implica adentrar em questões de transformações sociais, relações de poder, de classe, de gênero, de raça e etnia, de trocas simbólicas, entre outras. Nos meios acadêmicos existe um consenso quanto à importância do fenômeno religioso enquanto elemento dinamizador das sociedades, no entanto Gênero e Religião ainda se configura como uma questão pouco abordada, do que resulta inúmeras possibilidades de análise. Assim, para desenvolver nossa temática, visamos estabelecer um diálogo entre alguns referencias teóricos que se configuram como pano de fundo dessa investigação, a saber: Joan Scott e a discussão de gênero, Mikhail Bakhitin e sua concepção de circularidade cultural e Roger Chartier, com sua análise acerca das representações sócio-culturais.
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  • Dalva Maria Soares (ESUV - UFV), Maria de Fátima Lopes
    Gênero e poder na tradição do Congado em BH, MG
    Os rituais do Reinado de Nossa Senhora do Rosário ou Congado constituem-se numa das mais importantes expressões da religiosidade e da cultura afro-brasileira presentes em Minas Gerais e consiste num ciclo anual de homenagens à Santa, envolvendo entre outros ritos, a coroação de reis e rainhas. A mulher sempre esteve presente nos festejos, porém, ocupando espaços diferenciados dos homens. De uma maneira geral, a principal função delas na manifestação estava relacionada aos bastidores, na preparação dos banquetes e na ornamentação da festa. Atualmente, constata-se a presença feminina em posições, que, até algum tempo atrás, eram exercidas exclusivamente pelos homens, como dançantes, caixeiras e capitãs. Assim, a proposta desse trabalho foi empreender uma análise da inserção das mulheres nesses espaços. Para tanto foi feita uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico na qual se procurou estabelecer um diálogo entre a Antropologia e a Teoria Feminista. Pela pesquisa tornou possível concluir que o Congado é um espaço marcado por especificidades de gênero e que a ocupação pelas mulheres de lugares mais valorados demonstra uma reordenação nos espaços de poder na manifestação.
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  • Rita de Lourdes de Lima (UFRN)
    O imaginário judaico-cristão e a submissão das mulheres
    Este trabalho apresenta algumas reflexões sobre o imaginário judaico-cristão e defende a sua impossibilidade intrínseca de considerar as mulheres iguais aos homens em direitos e poder. Para isto, mostra como o judaismo nasceu como religião baseada na figura do patriarca e do Deus-Pai. As religiões que se desdobram dela - islamismo e cristianismo - têm os mesmos pressupostos e, por conseguinte, alicerçam-se a partir do poder centralizado nos homens e na constante submissão e obediência das mulheres, que devem construir suas vidas em obediência as regras “advindas” do Deus-Pai e, por conseguinte, de acordo com valores patriarcais . Deste modo, as lutas por poder e igualdade dentro desta concepção de mundo parece-nos fadadas ao fracasso, uma vez que contrariam a própria lógica interna deste imaginário.
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  • Luiza Etsuko Tomita (Universidade Metodista de São Paulo)
    Teologia feminista libertadora: deslocamentos epistemológicos
    Numa época em que se fala da crise das religiões, fundamentalismo religioso e a própria crise das teologias da libertação após a queda do muro de Berlim, a teologia feminista tem diante de si um número expressivo de desafios se quer, de um lado, dialogar com os teólogos da libertação, na busca de justiça social e de políticas transformadoras e do outro, apresentar para as mulheres um sentido de vida, uma visão espiritual onde as mulheres sejam não só sujeitos de sua própria vida, mas sejam reconhecidas como sujeitos teológicos, isto é, norteadoras do sagrado e portadoras de mensagens salvíficas.
    Os deslocamentos epistemológicos que emergiram a partir dos estudos feministas nas várias áreas do saber, nos últimos quarenta anos, também possibilitaram às mulheres a entrada nos espaços teológicos, antes redutos masculinos guardados ciosamente pelos teólogos cristãos, seguidores de Agostinho, Tomás, Lutero ou Calvino.
    A crise das religiões e os deslocamentos epistemológicos apontam para a necessidade da desconstrução das metáforas sagradas patriarcais, opressoras das mulheres e de grupos sociais marginalizados e nos convidam a enfrentar os desafios para a construção de metáforas transformadoras.

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