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27. Feminismos e maternidade: diálogos (im)pertinentes

Coordenador@s: Ana Paula Vosne Martins (UFPR), Maria Simone Vione Schwengber (Unijui)
Este ST tem como objetivo proporcionar um debate de natureza interdisciplinar sobre a maternidade tomando como referência a problematização desta experiência pelo feminismo, entendido tanto como movimento social quanto como pensamento crítico. Considerando a dimensão relacional do conceito de gênero, entendemos que os estudos que discutem a maternidade também incidem sobre a paternidade, o que implica que este ST também procurará discutir esta questão.
Tendo em vista a constituição de um campo de estudos sobre maternidades/paternidades nos últimos anos, teria razão Elizabeth Badinter ao falar de um neo-maternalismo feminista neste novo século? Como o feminismo hoje se posiciona em relação às políticas públicas, ao “dever” da amamentação, à estetização da maternidade, às novas tecnologias reprodutivas e ao seu modelo de maternidade e paternidade? Estas entre outras questões são endereçadas às pessoas que queiram participar do debate que este ST propõe.
Convidamos pesquisadoras das áreas de ciências humanas e de saúde que desenvolvam estudos, reflexões e também o trabalho com grupos de mulheres relativos à maternidade numa perspectiva de gênero. Interessam-nos, sobretudo, os estudos sobre a politização da maternidade, a história dos debates e polêmicas feministas a respeito da maternidade, as práticas e experiências de movimentos sociais com mulheres e mães, e a relação entre o feminismo e as experiências profissionais no atendimento às mulheres mães.

Local: Sala 315 do CFH

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Cintia Lima Crescêncio (UFSC)
    A maternidade como discurso: católicas pelo direito de decidir, revista Veja e as falas formadoras do ser mãe
    Nesse trabalho proponho a análise da cartilha “Maternidade – Conversando a Gente se Entende”, publicação da Católicas pelo Direito de Decidir brasileira (CDD-Br), organização católica e feminista fundada em 1993 que objetiva buscar justiça social e mudança dos padrões culturais e religiosos que atuam na sociedade brasileira. Para isso, nesta publicação, a maternidade foi renegada enquanto natural, sendo considerada pela organização como um sentimento que tanto pode surgir, como pode nunca existir em determinadas mulheres. Desvinculando a maternidade de modelos santificados, nessa cartilha primou-se por tratar o ser mãe como uma escolha da mulher e não como uma obrigação. Diante do exposto, destaco a relevância do tratamento dado à maternidade pela organização Católicas pelo Direito de Decidir, tratamento este que parte da teoria em direção à prática. Auxiliada por edições da Revista Veja que contemplaram o tema maternidade, explorei a metodologia da análise de conteúdo para articular incidência temática a contexto histórico, o que possibilitou a construção de um cenário brasileiro no que tange a questão da maternidade, elaborando-se, assim, um paralelo entre a Revista Veja e o trabalho semeador da CDD-Br para, dessa maneira, compreender as falas formadoras do “ser mãe".
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  • Larissa Selhorst Seixas (UFPR)
    Associações femininas, maternalismo e inserção das mulheres no mundo público: o centro paranaense feminino de cultura (Curitiba, 1933-1958)
    Nossa pesquisa procura estabelecer as relações entre gênero, associativismo, filantropia e Estado brasileiro, considerando as imbricações e as influências entre esses elementos, por meio do estudo do Centro Paranaense Feminino de Cultura (CPFC), fundado na cidade de Curitiba em 1933. Procuramos analisar de que maneira o CPFC fazia parte de um leque mais amplo de associações de mulheres que, combinando ações culturais e educativas com o trabalho filantrópico, contribuíram para a ampliação dos espaços de atuação femininos nas primeiras décadas do século XX. As centristas, como eram chamadas suas participantes, pautadas pelos ideais do maternalismo tão em voga naquele período, defendiam a função social da maternidade e a valorização das mulheres por esse papel, bem como o direito à educação, ao trabalho e à independência femininas, ainda que não se declarassem feministas. Temos a intenção, com nossa pesquisa, de compreender a importância das associações de mulheres na primeira metade do século XX no Brasil, valorizando as práticas e experiências daquelas que, majoritariamente advindas das classes média e alta, dedicaram-se a esse tipo de atividade como forma de agir sobre o mundo em que viviam.
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  • Ismael Gonçalves Alves (UFPR)
    Breves considerações: memórias da maternidade na região carbonífera catarinense
    Este trabalho é fruto de investigações preliminares que buscam investigar através das memórias de mulheres das camadas populares que foram mães – privilegiando as relações de parentesco e geração – entre 1960 a 1980 na Região Carbonífera de Santa Catarina, experiências e sensibilidades em torno da maternidade. Da mesma forma que busca também compreender como as mesmas se apropriaram e se reaproriaram dos discursos da pedagogia materna. A escolha deste período deve-se pelo mesmo privilegiar momentos específicos do contexto nacional e internacional que produziram profundos impactos sobre as experiências maternas, tais como: o divórcio, os discursos em favor do aborto, o uso de pílulas anticoncepcionais, novas tecnologias contraceptivas, etc. Este momento foi também marcado por uma “avalanche” de informações “especializadas” que doutrinavam as mulheres sobre o ofício da maternidade, coibindo a “ingerência” das práticas populares consideradas perigosas e rudimentares.
  • Michele Tupich Barbosa (UFPR)
    De casa para o hospital: as experiências das mães na institucionalização do parto em Guarapuava
    Este trabalho faz parte de uma pesquisa (Mestrado em História - UFPR), o qual está em andamento e que pretende dar viabilidade a um domínio da história das mulheres; fato que está no centro das definições culturais e históricas do feminino: a maternidade. No viés da pesquisa, intenta-se investigar a institucionalização do parto em Guarapuava – Paraná. Nesta perspectiva, pretendemos através desta comunicação, abordar as entrevistas realizadas com mulheres que tiveram suas experiências maternas em Guarapuava no período de 1960 a 1970. São relatos que dão conta da substituição da prática cultural do parto domiciliar pelo hospitalar, bem como, as experiências vividas pelas parturientes.
  • Ana Flavia Leite Cortez (UFPE), Rosineide Meira de Loudes Cordeiro (UFPE)
    O discurso da revista Crescer na normatização da sexualidade feminina na gravidez
    Nas últimas décadas a sexualidade na gravidez vem ganhando espaço na mídia. As revistas para mãe e grávidas tem sido um dos espaços midiáticos de produção dos novos discursos sobre a sexualidade na gravidez. Assim, este trabalho buscou identificar em que medida os discursos sobre sexualidade na gravidez, produzidos pela revista Crescer, rompem com antigos padrões normativos em torno da sexualidade feminina. Para análise dos dados, foi adotado o referencial metodológico das práticas discursivas e as ferramentas foucaultianas para a análise do discurso. Foram analisadas as matérias sobre o tema da sexualidade na gravidez, no período de janeiro de 1993 a janeiro de 2009. A análise dos dados aponta que a sexualização da gravidez pertence a uma nova tecnologia de poder, que entrelaça saberes médicos e psicológicos para produzir novas normativas sobre a sexualidade feminina. A partir do discurso do bem-estar, o sexo é visto como forma de manutenção do vínculo conjugal. O corpo grávido é sensualizado a partir de um padrão de beleza não-grávido, que reproduz a fragmentação mulher-mãe. Apesar dos novos enunciados, o homem continua sendo posicionado como sujeito desejante e a mulher como objeto do desejo, atualizando antigas relações de poder.
  • Ana Paula Vosne Martins (UFPR)
    Pobreza familiar e maternidade no contexto das políticas familiares do Governo Vargas: uma análise da escrita epistolar de mulheres mães para o poder na década de 1940
    Esta comunicação trata de uma estratégia utilizada por mulheres mães durante a elaboração das políticas de assistência e proteção às famílias pobres por parte do governo Vargas durante a década de 1940. Esta estratégia é fundamentalmente comunicativa, pois homens e mulheres responsáveis pela criação de seus filhos passaram a escrever para Getulio Vargas com a finalidade de convencer a autoridade de que eram merecedores da proteção do Estado para receber o abono familiar. Serão analisadas as cartas e algumas fotografias enviadas por mulheres tratando das estratégias narrativas por elas utilizadas, do lugar que construíram como mães para se dirigir ao poder representado pela pessoa de Vargas, bem como as representações de maternidade e de trabalhadoras que fazem de si mesmas na escrita epistolar, visando demonstrar como estavam em conformidade com as políticas públicas do governo brasileiro.
  • Tânia Maria Gomes da Silva (FAFIJAN)
    Vivências femininas: a experiência da maternidade
    Pesquisas desenvolvidas junto a mulheres das camadas médias urbanas apontam que o desejo de ser mãe está deixando de ser um ideal feminino. As mulheres passaram a se sentir sufocadas com a maternidade porque possuem planos profissionais, educacionais e expectativas de vida que o cuidado com os filhos dificulta. Essa nova visão contamina toda a sociedade? Acreditamos que não. Entre mulheres das camadas populares a vivência está profundamente marcada pela maternidade, tida como um referencial simbólico significativo. As mulheres pobres ainda desejam ser mães, o que não significa que não estajam também limitando o número de seus filhos. A partir de uma pesquisa que valeu-se da metologia oral e envolveu vinte mulheres moradoras da periferia de Mandaguari, norte do Paraná, apresentamos um quadro reflexivo sobre as maneiras como estas mulheres pobres estão vivendo a prática da maternidade e os métodos que utilizam para o controle da natalidade.
  • Caroline Santos Silva (UFBA), Gabriela dos Reis Sampaio
    “Machos imperfeitos”: discursos sobre maternidade na gazeta médica da Bahia (1866-1876)
    Tomando por base o contexto da Bahia imperial, esta pesquisa tem como objetivo analisar os projetos de feminilidade propostos por um dos principais periódicos científicos baianos, a Gazeta médica da Bahia. Para tanto, este trabalho pretende pensar a prática dos “médicos de senhoras” em Salvador entre 1866 e 1876, tendo em vista tanto a legitimação da Ginecologia e Obstetrícia, bem como os discursos médicos acerca da maternidade. O período a ser analisado neste artigo marca-se pela fundação da Gazeta médica da Bahia e pela criação da primeira enfermaria para parturientes na Santa Casa de Misericórdia da Bahia. Por conseguinte, o estudo se restringirá aos casos publicados na GMBa, que mapeados definem o perfil sócio-econômico das mulheres que aparecem nos relatos médicos, evidenciando as relações analisadas a partir de categorias como Gênero, raça e classe. Neste contexto, também entram em cena outras mulheres. As parteiras e curandeiras, que também fazem parte dos estudos acerca do trato com o corpo feminino, exerceram importante função no cuidado com a saúde da mulher, sendo que no século XIX disputaram espaços com os médicos, com a grande vantagem de contarem com a confiança de suas pacientes. Por isso, foram duramente criticadas pelos acadêmicos em seus periódicos científicos.

25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Letícia Prezzi Fernandes (UFRGS)
    Como se ensina a ser mãe e pai? Notas sobre o direito de família e as relações de gênero
    Este trabalho aborda alguns dos modos através dos quais a família e a parentalidade são colocados na legislação e como essas representações estão atravessadas e imbricadas com produções de gênero. Utilizei referenciais dos Estudos de Gênero e de Sexualidade Pós-estruturalistas para pensar como, dentro de determinada cultura, é possível produzir essas leis e não outras. Busco, a partir de uma análise de discurso, multiplicar os significados postos no direito de família, tentando articulá-los com o que se coloca na cultura de forma mais geral. Assim, uma dimensão central é a questão da infância como célebre e último objetivo da família. Para dar conta da educação e do cuidado das crianças outras dimensões como o amor e a consangüinidade se colocam como fundamentais. Nessa direção, gênero é um organizador da cultura e da família, mobilizando e marcando símbolos e instituições como a família e o direito. Em muitos locais da cultura, reforçados por elementos da legislação, mesmo que haja pai e mãe, é a mulher-mãe que será chamada, acionada e legitimada a criar e educar os/as filhos/as do casal.
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  • Silvana Maria Pereira (HU -UFSC), Marcos Leite dos Santos, Pablo Queiroz dos Santos (Hospital Santa Marcelina)
    Direito das mulheres – ter acompanhante durante o parto – a experiência da Lei brasileira
    Esta comunicação tem como objetivo apresentar o processo histórico de implantação da Lei 11.108, de 07/04/2005, conhecida como a Lei do(a) Acompanhante no Brasil, que assegurou à mulher escolher livremente um/a acompanhante para estar com ela durante o processo de parto no Sistema Único de Saúde– SUS, com base na experiência da Maternidade do HU-UFSC, implantada em 1995, em Florianópolis. Foi utilizada uma abordagem qualitativa, com fontes documentais oficiais necessárias para atender os objetivos. Alguns ensaios clínicos realizados recentemente apresentam fortes evidências da importância deste(a) acompanhante e como contribui para o aumento da satisfação expressada pelas mulheres. As conclusões ressaltam a importância mobilização social entre profissionais de saúde, REHUNA (Rede de Humanização do Nascimento) e parlamentares sensíveis para aprovar a Lei do(a) Acompanhante, bem como sua inclusão como ação estratégica do Pacto Nacional para a Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, lançado pelo Ministério de Saúde em 2004, reafirmado como prioridade no Pacto pela Vida, em 2006. Tal decisão fez com que o tema do(a) acompanhante fosse incluído nos eventos oficiais, envolvendo milhares de gestores, profissionais de saúde e representantes da sociedade civil.
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  • Dagmar Elisabeth Estermann Meyer (UFRGS)
    Família e inclusão social no Brasil: como funciona essa articulação?
    Dizer que “a” família tem sido o alvo preferencial de políticas que visam “inclusão social”, desenvolvimento econômico e resolução de problemas sociais nos países pobres e em desenvolvimento não constitui uma novidade. O que, talvez, se possa chamar de novo é o posicionamento da família, ao mesmo tempo, como alvo preferencial e como “parceira estratégica na implementação e [...] execução da política pública” (CARVALHO, 2003). Isso se torna muito mais visível em políticas apoiadas por organismos internacionais, que estão direcionadas para o que se convencionou chamar de “inclusão social” lato sensu. Pretende-se, aqui, examinar noções de família que são operadas em um conjunto dessas políticas, discutindo-se limites e possibilidades dessas noções. Apoiada nos estudos de gênero pós-estruturalistas, com ênfase na teorização foucaultiana, argumento que há uma enorme variabilidade de configurações familiares possíveis, nos grupos aos quais as ações programáticas se dirigem e, ao mesmo tempo, uma certa generalização da noção de família com a qual se opera, e isso se coloca tanto como um obstáculo quanto como um desafio para sua implementação.
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  • Carin Klein (UFRGS)
    O que as mulheres falam sobre homens e paternidade no âmbito do programa primeira infância melhor (PIM/RS)
    Neste trabalho, analiso alguns sentidos atribuídos, pelas mulheres-mães e visitadoras do Programa Primeira Infância Melhor (PIM/RS) a paternidade, uma vez que eles contribuem para re-atualizar e constituir as relações de gênero no âmbito de políticas públicas de educação em saúde e/ou inclusão social. Meu estudo insere-se no campo da teorização cultural, principalmente na perspectiva dos Estudos Feministas e dos Estudos Culturais, nas vertentes que têm proposto uma aproximação crítica com o Pós-Estruturalismo. Interessa indicar como a paternidade vem sendo significada, sob o enfoque de gênero, a fim de buscar compreender alguns aspectos que diferenciam, definem e hierarquizam as relações entre homens e mulheres. Acredito que um contexto de sociabilidade, como o vivenciado através desta política, pode sugerir e indicar como ocorrem essas construções para os indivíduos, levando em conta o caráter relacional, dinâmico e histórico da paternidade/maternidade.
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  • Eliane Cadoná (PUC - RS), Marlene Neves Strey (PUC - RS), Taís Borin Vieira (PUC - RS)
    Práticas maternas e o conceito de cuidado: problematizando campanhas do Ministério da Saúde
    Cuidar é uma palavra freqüentemente utilizada em nosso cotidiano e, muitas vezes, está ligada à maternidade. Ser mãe, na nossa cultura significa, dentre tantas outras coisas, responsabilizar-se pela saúde do filho/filha, sendo isso, sinônimo de cuidado. Esse conceito muitas vezes é naturalizado e os discursos do cotidiano consideram inconcebível uma mãe ter atitudes fora desse padrão. Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise das campanhas de incentivo ao aleitamento materno elaboradas pelo Ministério da Saúde, tendo como intuito verificar os conceitos de cuidado que se atravessam em seus materiais. Estes, por sua vez, são considerados importantes meios de comunicação social focados na promoção da saúde das crianças, deixando muitas vezes de lado a opinião que as mulheres têm sobre tais práticas e o papel que o pai pode desempenhar nesse processo. Tais discursos são analisados a partir das idéias de Michel Foucault e de autoras feministas, cujas obras contribuem para a problematização da naturalização de conceitos e práticas. Com este trabalho, atenta-se para os discursos médicos que, ao longo dos tempos, naturalizam algumas práticas da maternidade, problematizando, a partir daí, outras formas de entender o conceito de cuidado e a maternidade contemporânea.
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  • Angelita Alves de Carvalho (UFMG)
    Redução da fecundidade: expressão do desejo feminino ou das iniquidades de gênero?
    Este artigo tem como objetivo geral analisar como as questões de gênero se inter-relacionam com o investimento na carreira profissional e com as contradições trabalho-família influenciando e determinando o desejo e as escolhas reprodutivas das mulheres, as quais muitas vezes apresentam menor número de filhos do que o desejado. Por meio de um vasto referencial teórico verificou-se que é tarefa difícil determinar os fatores que regem as escolhas por filhos entre as mulheres, mas observou-se que, por vários motivos, muitas delas acabam por não realizar ou realizar parcialmente seu desejo de fecundidade. Não se deve ter uma visão simplista e reducionista do assunto, é necessário avançar, considerando além dos fatores mais visíveis e difundidos, refletir outros enfoques, dentre eles, os diversos impactos das iniqüidades de gênero que cercam as mulheres (família, trabalho, etc.) e ainda das condições afetivas que permeiam o mundo feminino na determinação de suas escolhas e desejos. Finaliza-se o texto destacando a importância de se refletir até que ponto a adoção por uma baixa fecundidade é um desejo feminino ou uma escolha imposta, mesmo não visível e declarada, causada por diversos fatores sociais, dentre eles desigualdades de gênero.
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  • Marcia Cristina Gonçalves de Oliveira Frassão (UFPR)
    Saúde é só para a mulher mãe: as políticas públicas em questão
    Considerando as políticas de saúde instituídas em nosso país, bem como a problematização da maternidade engendradas nas discussões feministas, é que esse trabalho objetiva discutir práticas de atendimento à saúde da mulher no município de Curitiba, mais especificamente o Programa "Mãe Curitibana". Os programas de saúde, considerando os índices de mortalidade materno infantil, fazem do biológico sua grande investida. De reconhecimento nacional e internacional, os programas que trabalham com o feminino mantém o simbólico da mulher reprodutiva, a mãe. Que outro lugar seria posto para mulher nas práticas de saúde? Alguns diálogos se fazem necessários, considerando: os discursos das políticas de saúde pública no entendimento do corpo da mulher; a família como instituição legitimada para a permanência da figura da mulher como cuidadora; e a invisibilidade de práticas no entendimento da subjetividade da mulher neste contexto da saúde, isto é, a saúde mental considerando se a mulher permanecerá ou não com a crianca, saúde na diversidade sexual(lésbicas, transexuais), enfim a sáude que não reproduza o simbólico da maternidade como única via de entendimento da mulher.
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  • Fabíola Mattos Pereira (IFSul-Rio-Grandense Campus Pelotas - Visconde da Graça)
    “Quando não tem filho, muita coisa tu não consegue”: mulheres, famílias e redes de assistência em vilas de grupo popular em Pelotas / RS
    Pretende-se neste artigo apresentar parte da discussão e dos resultados encontrados na dissertação de mestrado realizada em duas vilas de grupos populares na cidade de Pelotas. A pesquisa desenvolvida evidenciou as relações de reciprocidade entre as famílias e profissionais que atuam em programas e serviços da assistência social. A particularidade do estudo, evidenciada desde seu princípio na pesquisa em campo, apontou as aproximações/conexões entre diferentes programas sociais disponibilizados às famílias, que compõem um universo específico, o das redes de assistência. Motivando-se na fala de uma informante, objetiva-se com este artigo, apresentar as dinâmicas sociais que se constituem como marcadores identitários dos segmentos considerados alvo a serem atingidos nas respectivas políticas de assistência, dentre os quais se destacam as mulheres mães e suas crianças. Cabe, portanto, problematizar a condição paradoxal vivenciada pelos homens neste universo. O método qualitativo antropológico utilizado valeu-se de observações etnográficas, entrevistas e levantamento/acompanhamento da diversidade de ações desenvolvidas junto às famílias.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Érica Cristina de Sá (UFPE)
    De volta ao lar: a (re)valorização da maternidade intensiva e do trabalho doméstico feminino
    Durante muito tempo foi comum em nossa sociedade a reprodução de determinadas ideologias do lugar pertencente à mulher.Com a desmistificação de papéis vistos como sendo próprios de gênero foi se tornando uma realidade.Hoje, após muitas conquistas, não se busca mais definir posições sociais de gênero.As mulheres conquistaram o espaço público e se antes o que definia a subjetividade feminina era ser mãe e esposa, hoje as mulheres buscam antes de tudo sua independência, autonomia e liberdade.Mas vem surgindo mulheres que embora assumido muitos papéis dentro da família, muitas delas gostariam de ser dona-de-casa.Hoje, a figura da mulher como dona-de-casa servindo ao seu marido e aos seus filhos, cuidando do seu lar, sem exercer um trabalho remunerado fora do âmbito doméstico é percebida como ultrapassada, como uma regressão a um tempo de valores patriarcais.Ainda assim, algumas mulheres estão optando em quebrar mais esse tabu. Um tabu às avessas. Estão trocando suas profissões e suas atividades profissionais por um papel que parece ter perdido o seu “valor”. Busco investigar como mulheres de camadas médias se percebem ao trocarem seus trabalhos pela maternidade intensiva e como elas são percebidas por seus companheiros, familiares e amigos.
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  • Maria Simone Vione Schwengber (Unijui)
    Grávida! Um corpo desassossegado em busca do aperfeiçoamento da saúde e da estética
    O presente artigo é parte de uma pesquisa inspirada nos campos dos Estudos de Gênero. Nele discuto a emergência de uma lógica, segundo a qual a educação dos corpos maternos se intensifica, introduzindo uma nova “economia dos corpos”, na qual as disciplinas, as eficácias dos saberes densos e constritos passam a ser alvo de investimentos, pela racionalidade e controle dos profissionais da saúde. Assim as pedagogias midiáticas assumem um papel central nesse movimento moral de educação dos corpos das mulheres-gestantes no Brasil. Tem-se definido esse processo educativo contemporâneo mais amplo como “politização do feminino e da maternidade”. Para realizar essa discussão, examinamos a revista Pais e Filhos, no período de 1968 a 2004, utilizando estratégias metodológicas da análise de discurso. Das análises que resultaram dessa investigação focalizo um movimento que permite visualizar posições maternas, dentre elas a de um corpo “desassossegado”, por conta do aperfeiçoamento e da otimização da saúde. No concernente à saúde, trata-se agora de desenvolver uma saúde, mais forte, autoaperfeiçoada, alerta, firme, audaz; quanto à estética, trata-se de dar provas de “boa” auto-observância de um corpo enxuto, compacto e firme, sem excesso de gorduras, sem rasuras (fissuras) musculares.
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  • Denise Raquel Rohr (Unijui), Maria Simone Vione Schwengber (Unijui)
    Grupos de gestantes e a produção da mãe cuidadosa e saudável
    Dentre as preocupações dos modos de existir no mundo contemporâneo temos percebido a intensificação com os cuidados de si, sobretudo pelas mulheres na gravidez. Cuidados esses que implicam no "conhece-te a ti mesmo", em que a gestante aplica ações sobre si própria; para além do conhecer-se, trata-se de governar-se. Assim, a família deixou de ser a principal referência na constituição desses cuidados, sendo substituída pelos especialistas e grupos de pares [gestantes]. Nesta pesquisa acompanhamos a rotina do Grupo de Gestantes do Ambulatório da Penha, do município de Ijuí-RS. Como instrumentos de pesquisa, utilizamos diário de campo, entrevistas e documentos. Das análises, identificamos na intensa agenda do grupo de gestantes o registro de inúmeras consultas de pré-natais, nos cartões em que são apontados todos os movimentos, desde datas de consultas, modificação de pesos e medidas corporais, monitoramento do desenvolver do feto, até prescrição de atividades físicas, orientações odontológicas e cuidados alimentares da gestante. Esses cuidados operacionalizados no grupo produzem nas gestantes novas identidades [da mãe cuidadosa e saudável], ao que Ortega (2003) denomina de bioidentidades, que se constituem a partir do processo de regulação e controle da vida e dos corpos grávidos.
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  • Fernanda Bittencourt Ribeiro (PUC - RS)
    “Mas elas são de outro planeta?” Sentidos do parto em questão
    Sentir prazer no parto. Esta possibilidade relatada por mulheres e confirmada por análises fisiológicas do parto é difundida atualmente através de reportagens, sites, blogs, eventos científicos, exposições fotográficas, mostras de filmes... Rompendo com a sedimentada associação entre parto e sofrimento, a possibilidade de que esta seja uma experiência prazerosa, integra o ideário do parto humanizado entendido como o mais natural possível. Na sua dimensão política, este movimento opõe-se ao total poder médico nas escolhas relativas ao parto e preconiza o protagonismo das mulheres. No âmbito de uma pesquisa etnográfica atenta aos significados, práticas e experiências relativas ao parto na contemporaneidade, a observação participante, realizada nas sessões de exibição e debate do documentário Parto orgásmico – o segredo mais bem guardado, em Porto Alegre, permite avançar a hipótese de que estas produções culturais podem facilitar a liberação da palavra sobre experiências de prazer no parto, culturalmente indizíveis. O acompanhamento da repercussão deste filme, através da internet, e a constatação do incômodo e mesmo repulsa que a associação entre parto e prazer pode suscitar, dá acesso a atualidade da norma cultural que, historicamente, dissocia prazer, parto e sexualidade feminina.
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  • Mariléia Sell (UNISINOS)
    “Não gosto de falá mal da mãe”: expectativas de performances de maternidade negociadas na fala-em-interação
    A concepção de identidade pós-estruturalista, em uma perspectiva etnometodológica, trouxe profundas mudanças na maneira como se estabelece as relações entre gênero e linguagem. Por não serem naturais, as identidades de gênero, e aqui especificamente os aspectos relacionados à maternidade, precisam ser propostas e constantemente negociadas na e pela interação com o/a outro/a, que pode ratificá-las ou não. As interações mundanas assumem, então, um papel central na construção das identidades, uma vez que gênero passa a ser concebido como uma ação e não um estado (BUCHOLTZ e HALL, 2005; ECKERT e McCONNELL-GINET, 1992; OSTERMANN, 2003, 2006; BUTLER, 1990, 1999; SPEER, 2005). Os discursos normativos sobre as expectativas de performance de maternidade naturalizam e universalizam experiências e sentimentos, retirando a agentividade das mulheres e exercendo controle sobre os seus corpos (MARTIN, 2003). Quando as mulheres não sentem aquilo que é esperado delas, há, muitas vezes, um sentimento de inadequação, frustração e culpa. Para entender melhor a negociação e atualização dos discursos sobre maternidade na micro esfera interacional, apresento a importância da Análise da Conversa (SACKS, 1992), através da análise da interação entre uma psicóloga e uma candidata à laqueadura, em um posto
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