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02. A saúde como diversidade: gênero nas políticas de saúde

Coordenador@s: Graziela Cucchiarelli Werba (ULBRA), Marlene Neves Strey (PUC - RS)
As mulheres passaram a fazer parte das pautas nas Políticas Públicas nas primeiras décadas do século XX, inicialmente apenas como força de reprodução. Durante as décadas de 80 e 90 as discussões estimularam em 1993 o Ministério da Saúde a incluir no PAISM - Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, orientações específicas à assistência ao climatério.
A partir dos anos noventa, emerge o conceito de saúde reprodutiva e, somente mais tarde, a compreensão e inclusão dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos na pauta dos direitos humanos e da saúde como um conceito mais amplo.
Hoje, vemos a feminização da AIDS, as mortes maternas e o câncer como o resultado de décadas dessa política.
O presente Simpósio propõe a discussão e reflexão sobre a transversalidade do gênero nas políticas de saúde.

Local: Auditório da Eng. de Produção do CTC

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Graziela Cucchiarelli Werba (ULBRA), Fátima Oliveira de Oliveira (ULBRA Torres)
    Fazendo rede no acolhimento a mulheres em situação de violência
    Construir a rede de atendimento foi uma das metas iniciais do projeto de acolhimento a mulheres em situação de violência. O projeto iniciou na Clínica Escola de Psicologia ULBRA Torres, se estendeu para o SAJULBRA, depois foi levado para a Delegacia de Polícia, para os Postos de Saúde e para o Centro de Atendimento Psicossocial de Torres. Essa construção produziu a visibilidade do fenômeno da violência de gênero e a consequente discussão coletiva sobre o problema. Na DP de Torres, o serviço se tornou uma referência modificando a imagem da polícia local que hoje é também vista como um lugar de ajuda. Aumentou consideralvelmente a procura pelo atendimento a situações de violência de gênero além de gerar o empoderamento das mulheres atendidas. Em um segundo plano, percebemos a conscientização e o maior comprometimento dos e das policiais envolvidos com este atendimento. A partir deste trabalho a rede pública de saúde solicitou sua inclusão no nosso atendimento. Todo este trabalho é realizado com estagiários e estagiárias do curso de Psicologia. Eles e elas são qualificados em gênero e passam a ser multiplicadores da discussão sobre violência de gênero.
  • Luciene Tomazi da Silva (ULBRA Torres)
    História de lobas silenciadas buscando a jovem Perséfone - menopausa e gênero
    Este trabalho relata uma pesquisa qualitativa que verificou, juntamente à saúde pública de Tramandaí/RS, quais as políticas públicas engendradas no atendimento das mulheres na maturidade, especificamente durante a menopausa. Assim, após um percurso pela rede de saúde pública local, foi possível verificar através das queixas mais comuns das usuárias, quais as possíveis idéias e representações que as mobilizam a buscarem atendimento nesta fase da vida. Igualmente, procurou-se avaliar os possíveis efeitos de uma escuta psicológica grupal, como um dispositivo de prevenção e tratamento alternativo ao uso de medicamentos. A proposta da investigação foi justamente buscar a compreensão da saúde da mulher, especialmente a menopausa, pela ótica crítica dos estudos de gênero e, a partir da perspectiva da Psicologia Social Histórico Critica. A análise das entrevistas individuais e das observações, gravadas e transcritas, produziu as seguintes categorias de compreensão: Envelhecimento, Produtividade, Sexualidade, Silêncio e Culpabilização. Por meio destas intervenções, constatamos uma redução das queixas em relação à menopausa. Passaram a construir novas imagens e representações de mulher, desejando serem reconhecidas para além das funções fisiológicas e suas limitações.
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  • Roberta Matassoli Duran Flach (UFRJ), Ludmila Fontenele Cavalcanti, Rejane Santos Farias
    Avaliação dos serviços de atenção às mulheres em situação de violência sexual no estado do Rio de Janeiro
    Introdução. Essa pesquisa, pioneira no Estado do Rio de Janeiro, insere-se nos esforços de contribuir para melhorar as respostas dos serviços de saúde aos grupos beneficiários e reorientar as estratégias de ação na atenção às mulheres em situação de violência sexual. Objetivo. Avaliar os serviços de atenção às mulheres em situação de violência sexual no Estado do Rio de Janeiro. Método. A metodologia adotada privilegiou a triangulação de fontes, através da abordagem qualitativa, na construção de indicadores, na coleta de dados e na análise do material sobre os serviços de 08 regiões do Estado. Resultados. Em todos os municípios visitados a maioria das violências é perpetrada pelo parceiro íntimo. Sobre os serviços, observou-se: coordenação do Programa de DST/Aids e do Programa de Saúde da Mulher; limitação em garantir espaço reservado para esse tipo de atendimento; dificuldade no fornecimento da anticoncepção de emergência; insuficiência de material educativo que aborde a temática da violência sexual; falta de suporte à equipe; interferência da conjuntura política na atenção à saúde; e configuração variada da rede de serviços. Conclusões. Os resultados apontam para a invisibilidade dos serviços de atenção às mulheres em situação de violência sexual.
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  • Terezinha Maria Mafioletti (Rede Feminista de Saúde)
    Violência doméstica contra a mulher um problema de saúde pública -a situação do Paraná
    A violência doméstica contra a mulher é um problema de saúde pública que afeta a saúde física e mental das mulheres com importantes conseqüências econômicas e sociais. Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, “as conseqüências do abuso são profundas, indo além da saúde e da felicidade individual e afetando o bem estar de comunidades inteiras”. Seu enfrentamento passa pela necessidade de desconstrução cultural de que a violência doméstica é um problema de ordem privada e familiar, assim sendo o poder público deve intervir com a formulação e execução de políticas e programas para o enfrentamento do problema. Neste sentido, importantes iniciativas têm sido adotadas em nosso País como a implantação da ficha de notificação da violência no ano de 2008 possibilitando reconhecer a existência destes agravos, a gravidade e magnitude do problema e a necessidade de organizar serviços de atenção. O Estado do Paraná já realizou capacitação para a implantação da ficha de notificação e atualmente 30 municípios já notificam as violências num total de 1580 fichas. Este estudo traça um perfil da violência contra a mulher no Estado do Paraná através da analise das notificações epidemiológicas e as conseqüências para a saúde das mulheres em situação de violência.
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  • Sandra Beatris Diniz Ebling (Unijui), Elza Maria Fonseca Falkembach
    Algumas considerações acerca das relações de gênero e de poder na Educação em Saúde
    Partindo da compreensão da mulher do MST – Movimento Sem Terra - não apenas como: militante, trabalhadora, cuidadora e agricultora, mas também como: “sujeito que além de buscar seu espaço para direitos de forma igualitária e universal, busca também à construção de estratégias de cuidado de si.” (COELHO et al, 2006, p.7), o estudo tem como objetivo diagnosticar as pesquisas realizadas de 2000 a 2009, acerca da educação em saúde e da mulher do MST. Optou-se por uma pesquisa bibliográfica em fontes eletrônicas, elegendo o SCIELO como corpus de análise. A partir das palavras chaves elencadas “educação + saúde + mulher MST”, não foram encontradas publicações, o que exigiu expansão da pesquisa para evidenciar estudos na educação em saúde que contemplam a mulher na sua complexidade. A partir dos novos descritores “educação e saúde da mulher” foram encontrados 20 artigos, dos quais foram definidos 2 para a discussão do tema, visto que tais estudos abordam relações de gênero e relações de poder na educação e saúde. Concluiu-se com este estudo que os olhares para a educação em saúde ainda estão voltados para o corpo, principalmente no que se refere à maternidade, o que desafia a pesquisa em educação a abordar a educação em saúde de forma a contemplar a mulher em sua complexidade.
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25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Carla Moura Pereira Lima (Fiocruz)
    Quantos buracos? Análise de um curso de protagonismo de gênero em 13 favelas do Rio de Janeiro
    O presente trabalho pretende analisar o processo de construção compartilhada de um curso de protagonismo de gênero que atende à mulheres de 13 favelas do Rio de Janeiro, prioritariamente. O Curso Mulher Manguinhos iniciou-se em maio de 2009. Desde então foram realizados os dois primeiros módulos: “Ser Mulher” e “Ser Criança”. Ambos discutiram temas relativos à saúde e condições de vida, sempre na perspectiva do protagonismo nas lutas pelo acesso aos direitos desses segmentos da população. O Curso Mulher Manguinhos foi elaborado coletivamente. Processo no qual estiveram reunidas várias lideranças femininas do local para dialogar acerca das propostas do curso e da composição do seu conteúdo programático. O presente trabalho analisa o discurso das mulheres na oficina Sexualidade da Mulher,correlacionado-o com as políticas de Eduação e Saúde, Planejamento Familiar e mesmo a abordagem do corpo humano no ensino formal tomando como exemplo a dúvida apresentada por uma participante do curso. Imigrante, ensino médio completo e uma das mulheres mais articuladas do grupo, depois de já ter vivido em mais de dez estados, se estabeleceu-se em uma favela e se casou duas vezes. Avó e separada, ela decide esclarecer uma dúvida antiga: quantos buracos a mulher tem embaixo?
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  • Magda Monteiro Noschang (ULBRA Torres), Graziela Cucchiarelli Werba (ULBRA)
    A feminização da AIDS: os contornos da vulnerabilidade
    Esta pesquisa qualitativa investigou as vulnerabilidades das mulheres portadoras de HIV/AIDS do município de Tramandaí/RS. Além disso, buscou conhecer as políticas públicas disponíveis, bem como possíveis estratégias de enfrentamento. Embasou-se nos referenciais teóricos dos estudos de Gênero, Vulnerabilidade e Psicologia Social Histórico Crítica. Os dados mostraram que as vulnerabilidades das mulheres participantes foram relacionadas com a idéia de não pertencerem aos grupos de risco. Também se vinculam com a dinâmica de poder inerente às relações de gênero, bem como com a falta de políticas públicas eficazes de prevenção a AIDS que atinjam este segmento da população, explicitando nitidamente o risco de infecção vivido pelas mulheres que mantêm relações heterossexuais fixas. Através da perspectiva de Gênero, apostou-se na urgência em aprofundar avaliações e questionamentos das práticas existentes. Por fim, fica uma única certeza, a de que as mulheres, enquanto categoria social, precisam dedicar esforços às mulheres vulneráveis ao HIV/AIDS, e, principalmente às que já são portadoras. Esse será um dos caminhos para a superação das tradicionais normas de gênero. Acredita-se que essa superação permitirá uma relação de mais equidade entre os sexos, inclusive no campo da saúde.
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  • Juliana Rocha Rufino (ULBRA), Graziela Cuncchiarelli Werba (ULBRA)
    Câncer de mama: um desafio para a saúde pública
    No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa morte entre as mulheres. O RS é o terceiro estado com maior número de casos, sendo um desafio para a saúde pública. O presente estudo, com uma abordagem qualitativa, investigou as políticas disponíveis no município de Osório/RS para atender as mulheres com câncer de mama, o percurso na busca por tratamento e os conhecimentos acerca da doença. Os dados foram obtidos através de entrevistas e acompanhamento das mulheres. Na análise dos resultados, sob a perspectiva de gênero, observou-se que, antes do adoecimento tinham pouco conhecimento sobre a doença. Detectamos que, embora o município disponha de um aparato físico e objetivo para os atendimentos, não encontramos nenhum ponto de referência ou apoio psicológico específico. Os casos são encaminhados para hospitais da capital e o tratamento fica remetido a estes locais. Não observamos a existência de espaços de fala, considerados fundamentais na recuperação. Os achados apontam a relevância de estudos que investiguem se as políticas voltadas para a saúde da mulher correspondem às demandas e expectativas desta população, podendo ser úteis para a reflexão e questionamento de práticas atuais, e orientar a luta por políticas públicas efetivas, em ressonância com as necessidades das mulheres.
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  • Lélia Marília dos Reis (FFCLRP/USP), Maria Alves de Toledo Bruns
    Sentidos do corpo e feminino em mulheres que desenvolveram câncer de colo de útero
    Buscamos compreender a mulher que vivencia sua sexualidade no adoecimento na interface com o câncer de colo de útero. Para tal, apresentaremos depoimentos de 07mulheres entre 30 e 59 anos, usuárias de serviço público de saúde, mediados pela questão: Fale-me acerca de sua vida, relações afetivas e sexuais, em especial a partir de seu diagnóstico de câncer de colo de útero. Elegemos para esta compreensão três momentos da vivência: diagnóstico, tratamento e cura e os depoimentos foram submetidos ao processo da análise da pesquisa fenomenológica que nos possibilitou 05 categorias: Infância e adolescência: vínculos e apropriação do mundo; Sexualidade e experiências afetivo-sexuais; Corpo adoecido e o ser no mundo; O feminino: modo de existir e Projeto de vida: percepções e perspectivas. Foram interpretadas pela perspectiva de Maurice Merleau-Ponty e nos revelaram que embora para existir seja fundamental a inter-relação com o outro, o corpo feminino está a disposição dos ethos da dominação masculina que o marca e fere com estereótipos e papéis sociais alienantes, de tal modo que não se apropria de seu existir autêntico. Este contexto não viabiliza a produção de significados e sentidos, especialmente com relação ao ser mulher, sendo o câncer, para algumas, o despertar da corporeidade.
  • Ana Claudia Jaquetto Pereira (IUPERJ), Sarah de Freitas Reis
    Gênero e direitos reprodutivos nas políticas públicas
    O conceito de “direitos reprodutivos” popularizou-se a partir da Conferência do Cairo, baseado em uma definição fortemente influenciada por movimentos feministas de todo o mundo, atentos à promoção da autonomia das mulheres sobre o próprio corpo. A definição destes direitos consolidada na Conferência impactou de forma direta nas políticas em vigor no Brasil.
    O governo Lula comprometeu-se com a ampliação dos direitos reprodutivos das mulheres em seus documentos e programas, ainda que não tenha contemplado a totalidade das demandas feministas. Entretanto, a escassa referência aos direitos reprodutivos dos homens indica uma tendência de atribuir às mulheres o ônus da reprodução e seu controle. A Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem (2009) sugere esforços para diminuir essa assimetria, iniciando um debate sobre o papel e a responsabilidade masculina na reprodução.
    Este trabalho analisa o discurso e a implementação das políticas públicas de direitos reprodutivos a partir de estudos feministas. Seus resultados apontam que o governo tem diminuído os recursos para assegurar direitos reprodutivos de homens e mulheres. Com isso, sua promoção e o combate às desigualdades de gênero são confinados ao âmbito do discurso, indicando que o Estado pouco tem avançado neste campo.

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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Janaína Marina Rossi (UFPR)
    Saúde mental das mulheres lésbicas: desafios para a Psicologia
    A angústia, tristeza e mal-estar de mulheres não são ocasionais, derivando de suas condições de vida e dos sistemas sociais que integram. O mesmo se passa com a mulher lésbica: dados como incidência de depressão e ansiedade nessa população, índices de suicídio entre jovens lésbicas, tabagismo, alcoolismo e outras adicções e comportamentos de risco, doenças somáticas derivadas de estresse revelam necessidade de revisão no conceito clássico de saúde que marcou os movimentos feministas, que pautado nas reivindicações de direitos sexuais e reprodutivos esqueceu de analisar o campo da subjetividade-corpo como um todo, e a importância de uma concepção de Saúde Integral que leve em conta as instituições que geram do mal-estar à violência vivida entre as mulheres. Sendo expressões de um sistema social agindo repressivamente, no caso de lésbicas impôem uma clandestinidade como efeito da exclusão, da não aceitação familiar e dos sentimentos de inadequação que marcam as histórias desses sujeitos, assim como as instituições psiquiátricas que então medicalizam as identidades e vidas divergentes da hetero-sexualidade compulsória que rege a economia e estrutura cultural onde se assenta o Patriarcado, denunciando a lésbica como um projeto político que pôe em cheque estes, e o preço alto a pagar.
  • Julliana Luiz Rodrigues (USP), Neia Schor
    Saúde sexual e reprodutiva de mulheres lésbicas e bissexuais
    Incluir as reflexões de gênero e dos direitos humanos no campo da saúde pública afasta-nos do perigo de transformar uma questão sócio-cultural em um problema exclusivamente médico. Nesse sentido, o conceito de gênero traz uma contribuição ao discurso sobre o sexo, pois compreende a sexualidade e a feminilidade e masculinidade como plurais, dinâmicas e constitutivas das relações sociais significadas por poder.
    A presente pesquisa tem por objetivo revisar os principais resultados de estudos sobre a saúde sexual e reprodutiva de mulheres lésbicas e bissexuais. Os achados da literatura mostram dados preocupantes: menor solicitação por parte dos profissionais para realização de exames papanicolau, acesso à consulta ginecológica sem regularidade, uso pouco freqüente de métodos de proteção à DST e AIDS, dificuldades para conversar com o profissional sobre sua orientação sexual.
    Os tabus, as ineqüidades de gênero, os preconceitos sobre a vida sexual e reprodutiva têm se constituído em impedimentos para uma atenção de qualidade nesse terreno. Assim, o reconhecimento dos direitos dos sujeitos com práticas não-heterossexuais nos serviços são estratégias fundamentais a serem incluídas na política pública e no campo da saúde para promoção dos direitos sexuais e exercício da cidadania.

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  • Magnor Ido Müller (UFRGS), Daniela Riva Knauth (UFRGS)
    “Os Médicos nunca me tocaram um dedo! Eu cansei daquele posto! -A percepção das travestis quanto ao atendimento público de saúde
    Este estudo foi realizado a partir de encontros semanais promovidos pela Associação de Travestis e Transgêneros do Rio Grande do Sul- Igualdade a fim de se conhecer a percepção das travestis quanto ao atendimento em saúde. Realizou-se uma pesquisa qualitativa com sete travestis que freqüentam os encontros organizados pelo grupo Igualdade, em Porto Alegre. Durante a realização do grupo focal as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas a fim de serem analisadas e divididas em categorias. Foram destacadas as seguintes categorias: “Linguagem”; “Corpo”; “Situação de Discriminação”; “Hospitalização”; “Serviços de Saúde”; ”Medicações”; “HIV/AIDS”; “Preconceito”; “Estratégias para Lidar com o Preconceito” e “Violência Simbólica e Física”. A partir das observações e depoimentos se percebeu que é necessário qualificar os profissionais de saúde para o acolhimento e para o atendimento dado ao grupo estudado. A estigmatização social e a discriminação marginalizam as travestis e trazem conseqüências bastante relevantes à saúde pública.
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  • Valeska Zanello (IESB)
    Gênero e sofrimento psíquico grave: repensando formas de intervenção
    A relação entre mulher e loucura sempre foi uma sombra que acompanhou a história do pensamento ocidental. Sombra no sentido de pertencimento (de ser inseparável, frente ao sol da racionalidade), mas também, de um segundo plano, pertencente a uma segunda cena. Desde Hipócrates, às mulheres foram atribuídas formas privilegiadas de loucura, dentre elas, a famosa histeria, cuja palavra remontava, em seu significado, a uma hipótese causal de que, nas ditas crises de loucura feminina, tratava-se de estar o útero vagando nas entranhas das “enfurecidas”. Na Idade Contemporânea, nova forma de controle social se exerce sob a “loucura” feminina, desta vez visível sob as lentes da psiquiatria: os ditos transtornos de ansiedade, a depressão e os transtornos alimentares agora são medicados e garantem ao sistema a invisibilidade do sofrimento intenso relacionado a importantes questões de gênero. O presente trabalho teve como escopo repensar formas de intervenção, a partir de uma escuta qualificadora do sofrimento de pacientes internadas em um importante hospital psiquiátrico de Brasília. Aponta-se uma inexistência da leitura a partir do enfoque das relações de gênero nas políticas de saúde mental.
  • Rosângela de Sousa Veras (CEFET - MA)
    Direitos reprodutivos e cultura: representações da fertilidade e da anticoncepção
    O PAISM e a regulamentação do Planejamento Familiar lei n. 9263/96 buscam atender aos Direitos Reprodutivos. Cabe questionar se os recursos educacionais e científicos oferecidos para o exercício da “paternidade responsável” levam em consideração a cultura? Consegue-se de fato planejar o número de filhos? Como contraponto, apresento as representações coletivas que as/os usuárias/os de um programa de planejamento familiar, da cidade de São Luís, têm acerca da sua fertilidade, dos métodos contraceptivos e como isto influencia na adoção da esterilização cirúrgica. As percepções que mais se destacaram nos relatos dizem respeito ao “período mais fácil de pegar filho” uma associação fertilidade/menstruação, a negação da pílula anticoncepcional porque esta “acumular no útero” e a rejeição da vasectomia que comprometeria a “virilidade masculina”. Os profissionais médicos argumentam que é preciso “desmistificar” esses conceitos. Mas, mesmo após as palestras educativas as pessoas continuam com as mesmas impressões. Porém não se trata de desinformação, pois as informações biomédicas são relativizadas permanecendo as informações recebidas pelas gerações passadas, as mais significativas. Por outro lado, o método contraceptivo considerado ideal é destinado às mulheres, a laqueadura tubária.
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  • Ingrid Farias de Liz (UNIPLAC), Marivete Gesser (UNIPLAC)
    Concepções de gênero e de sexualidade e suas influências na constituição das práticas no campo da saúde sexual e reprodutiva em uma Unidade de Saúde do município de Lages/SC
    O objetivo da pesquisa foi o de identificar as concepções de gênero e de sexualidade norteadoras da atuação profissional no campo da saúde sexual e reprodutiva. A pesquisa foi financiada pela FAPESC – Fundação de Apoio à Pesquisa Cientifica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina – e contou com a participação de 12 profissionais de uma UBS – Unidade Básica de Saúde – do município de Lages/SC. As informações foram obtidas por meio de entrevistas semi-estruturadas e analisadas com base no método de análise de conteúdo. Os resultados mostraram que as concepções de gênero e de sexualidade, norteadoras do atendimento à população no campo da saúde sexual e reprodutiva, foram predominantemente marcadas pela redução da sexualidade ao coito e aos cuidados necessários à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Também identificou-se que os profissionais da UBS não foram capacitados para abordar esse tema a partir de um uma concepção ético-política de sexualidade, voltada à emancipação dos sujeitos. Portanto, o estudo mostrou a necessidade de capacitar os profissionais visando a ressignificação de mitos, tabus e preconceitos relacionados às questões de gênero e de sexualidade para a potencialização da autonomia preconizada pelo SUS – Sistema Único de Saúde.
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