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69. Sexualidades, corporalidade e trânsitos: narrativas fora da ordem |
Coordenador@s: Berenice Bento (UFRN), Larissa Maués Pelúcio Silva (Unicamp) |
Pesquisas apresentadas nas últimas edições do Simpósio Temático "Sexualidades, corporalidade e transgêneros: narrativas fora da ordem” (2006, 2008) revelam os múltiplos efeitos da diáspora para sujeitos que vivem experiências de trânsitos identitários, particularmente, entre travestis e transexuais. Os deslizamentos na ordem binária dos gêneros têm sido muitas vezes acompanhado de deslocamentos geográficos de pessoas que buscam vidas mais habitáveis em espaços mais imaginativos, sejam em projetos (i)migratórios ou em intensas vivências em espaços virtuais como as plataformas de sociabilidade disponíveis na internet. É interessante observar que a maior parte dessas pessoas busque não só formas de sociabilidade e prazeres, mas também auto-identificações, em um esforço que têm oferecido um leque de novas terminologias ainda pouco exploradas. Essa realidade evidencia a necessidade de se discutir conceitos capazes de compreender o que diferencia essas pessoas, assim como, o que as unifica a partir de um marco teórico que considere a historicidade e o caráter social dos comportamentos sexuais e das percepções corporais, buscando-se superar as concepções universalizantes e essencialistas que prevaleceram até recentemente. Daí a importância de buscarmos um aprofundamento nos debates sobre a nova ordem corporal e sexual e suas implicações éticas, estéticas e políticas. Para tanto, é preciso que desenvolvamos contra-discursos sobre estas subjetividades, os quais as compreendam a partir de seus próprios termos e moralidades. A produção de um novo léxico de resistência à crescente patologização das experiências identitárias no âmbito da sexualidade e do gênero é um desafio teórico que nosso ST que propõe contribuir. Explorar a potencialidade dessas vidas diaspóricas tem possibilitado que se construa um campo novo de estudos como também exigido um processo reflexivo que é ao mesmo tempo teórico, metodológico e ético.
Local: Auditório do CSE
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Resumos
24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
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Gilson Goulart Carrijo (Unicamp)
A conquista da Europa: as fotografias nas narrativas migratórias de travestis
Este trabalho deriva do projeto de doutorado intitulado Imagens fora do Silêncio: percepções sensíveis, linguagens e construção de sentidos na fotografia, desenvolvido junto ao Programa de Doutorado em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas, SP. O campo centra-se na cidade de Uberlândia (MG), mas parte do material etnográfico aqui utilizado provém do estágio de doutoramento realizado na Università Degli Studi di Milano na cidade de Milano (Itália). Recorto fragmentos da migração das travestis para a Itália que se mostra um projeto significativamente marcado pela expectativa de trabalho e sobrevivência, mas também que se reveste de glamour num cenário em que as imagens –fotografias enviadas à família e também disponibilizadas na plataforma virtual - compoem as narrativas de um sucesso, inscrito no corpo, nas jóias, nos carros, mas também ancoradas em espaços geográficos diferenciados, capazes de informar sobre “a conquista da Europa”.
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Juliana Salles de Siqueira (UFMG)
Narrativas fotográficas da travestilidade: potencialidades do gênero em imagens-ato
Este artigo tenciona apresentar algumas reflexões iniciais sobre a representação e a performação da travestilidade em narrativas fotográficas, enfocando as especificidades e as potencialidades dos usos desse tipo de imagem na construção de valores de gênero. Em um primeiro momento, buscamos problematizar certas proposições encetadas por Philippe Dubois (1993) acerca da caracterização da fotografia enquanto um “verdadeiro ato icônico”, isto é, enquanto objeto em estrita condição de conexão com o seu processo de elaboração e de vinculação indicial com um real. Somos interpelados, então, pela velha questão da pretensão documental atribuída aos usos do dispositivo fotográfico e, desta forma, direcionamos o debate para pensar esta pretensão em relação às implicações ético-estéticas patentes às narrativas imagéticas selecionadas para análise. Ao nos debruçarmos sobre as imagens-ato organizadas pela fotógrafa estadunidense Nan Goldin, delineamos o questionamento analítico nodal deste trabalho: de que forma, em face das implicações dessas narrativas fotográficas, certos valores de gênero são confrontados e modos de vida delineados?
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Ondina Pena Pereira (UCB), Flávia Bascuñán Timm (UCB), Daniela Cabral Gontijo (UnB)
Alteridade e violência: travestis e mulheres transexuais em situação de prostituição
Pretendemos, neste artigo, analisar a experiência de cooperação entre o grupo de pesquisa Alteridade e violência: travestis e mulheres transexuais em situação de prostituição no DF e a ANAV-TRANS, associação criada para enfrentar a condição de vulnerabilidade e abandono em que se encontra parte dessa população. Visamos principalmente duas dimensões da experiência. A primeira refere-se ao método utilizado na produção da parceria, inspirado na idéia de uma antropologia compartilhada (Rouch, Leandro), aliada a uma estratégia das trocas simbólicas (Baudrillard), segundo as quais não há “objeto de pesquisa”, mas jogo de desafio e de trocas entre parceiras. O conteúdo do questionário e o trabalho de campo foram conduzidos pelas próprias travestis, transformadas, assim, em pesquisadoras, o que resultou em mais de 70 entrevistas nos diversos locais de prostituição. Analisaremos os deslocamentos produzidos por esses procedimentos, principalmente porque reverberaram na pesquisa Alteridade e Violência, movimentando o grupo a novas experiências. A segunda dimensão refere-se às diferentes narrativas feitas sobre os trabalhos de campo, considerando o processo de transformação de cada uma das travestis e mulheres transexuais em investigadoras da sua própria história de vida.
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Flavia do Bonsucesso Teixeira (UFU), Luisa Maria Leonini, Adriana Gracia Piscitelli
Amores (e) doces: as relações afetivas estabelecidas entre travestis brasileiras e homens italianos em Milano
A migração de travestis brasileiras para os países europeus, particularmente a Itália, vem chamando a atenção de pesquisadores brasileiros desde o trabalho inaugural de Hélio Silva (1993). A principal atenção conferida a elas tem se dado em termos de sua participação na indústria do sexo, pois, no Brasil e no exterior, a maioria das travestis sobrevive da venda de serviços sexuais (PATRÍCIO, 2008; PELÚCIO, 2009; TEIXEIRA, 2008). Entretanto, nosso trabalho, resultado da pesquisa de pós-doutoramento realizado na Universitá Degli Studi di Milano, está centrado em outro aspecto: investigamos as relações estabelecidas por algumas travestis brasileiras, vivendo na Itália, com seus “maridos” italianos; com o interesse de oferecer elementos para exploramos a noção de provisioriedade que parece marcar também as relações afetivas. Argumentamos que a transitoriedade marca toda a experiência delas e se ancora não tanto no trabalho sexual, nem no caráter temporário do projeto migratório, mas, sobretudo, na percepção da fragilidade das relações afetivas que não se adequam à norma heterossexual.
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María Soledad Cutuli (Universidad de Buenos Aires)
Apuntes para el análisis de los cambios y las continuidades en las formas de organización social y política de travestis y transexuales en Argentina
En las últimas dos décadas se conformaron en Argentina distintas organizaciones de travestis y transexuales. Durante los ’90, los objetivos centrales de los grupos pioneros consistían, por un lado, en luchar por la derogación de los Edictos policiales y el cese de la violencia policial, y por otro en realizar actividades de prevención del VIH Sida; ambos focalizados principalmente en personas en situación de prostitución. Si bien estos problemas siguen presentes en las agendas de las asociaciones, actualmente sus propósitos se han diversificado, ampliando el horizonte de demandas al acceso a educación, vivienda, salud y trabajo digno. En este artículo indagamos en las trayectorias organizativas de las agrupaciones de travestis y transexuales más reconocidas de Argentina, para preguntarnos sobre los cambios y las continuidades en sus proyectos y prioridades, así como en los diferentes modos de vinculación con instituciones estatales y de la sociedad civil. Argumentamos que estos procesos, marcados por tensiones entre los objetivos de las organizaciones, las políticas que regulan a este colectivo, y sus vidas cotidianas y expectativas, pueden pensarse como "deslocamentos" que permiten construir a travestis y transexuales más allá de un destino único de prostitución.
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Milene Soares (USP), Maria Alves de Toledo Bruns
Vivências afetivo-sexuais de parceiros de transexuais
Na década de 90, com o surgimento das Teorias Queer e a proposta de refletir a construção histórica das categorias de gênero e sexo em oposição aos paradigmas da heteronormatividade, novas subjetividades passam a ter visibilidade. Os “novos” modelos de parcerias evidenciam a diversidade sexual, incluindo os parceiros de transexuais, sujeitos que suscitam questionamentos, como: Quem é esse homem que se relaciona afetivo-sexualmente com um(a) transexual? Para responder essa questão estão sendo entrevistados 10 homens que se relacionam com transexuais. A entrevista é mediada pela pergunta: “Fale para mim acerca de seus relacionamentos afetivo-sexuais no decorrer de sua vida”. Os depoimentos estão sendo submetidos aos passos da metodologia fenomenológica para desvelar os significados por eles atribuídos as suas vivencias afetivo-sexuais que assim se expressam: conflitos com a orientação do desejo sexual, segredos, angustias, dúvidas por se perceberem “diferentes”. Vivencias se entrelaçam com preconceitos e estigmas por não encontrarem espaço para serem ouvidos e acolhidos. Dar voz aos parceiros de transexuais contribui para ampliar a construção de gênero e deslocar o paradigma da heteronormatividade.
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25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Margarete Almeida Nepomuceno (UFPB)
Esta boneca tem manual: a plástica do sexo e o sexo de plástico
Este artigo pretende percorrer os caminhos das Realdoll, ou seja, bonecas de plástico que traduzem as polifonias fetichistas que oscila e ultrapassa os limites entre o animado e o inanimado. Bonecas reais não são apenas inauditas projeções humanas, mas extensões corpóreas de deslocamentos pós-humanos que desmontam a idéia da natureza/cultura dos gêneros, revelando a estrutura imitativa do “real” e “legítimo” a qual se quer performatizar. Uma estilística maquinaria que se relaciona com a pluralidade de sentidos por onde escorrem o gozo, a companhia, o afeto, des-construindo, des-mistificando e des-naturalizando as noções tradicionais de sexo e prazer. Bonecas de plástico são mais do que sexo de plástico, falam de uma plástica do sexo: limpo, higienizado, silencioso e domesticado, erótico, utilizável e produtivo aos uso dos prazeres. Novas cartografias inventam e refazem as relações do corpo,com o corpo e fora do corpo, instaurando outras formas de presença, outros estilos de ser e estar no mundo. É o agenciamento do humano e o não-humano, da carne e do metal, do cérebro e do silício. As Realdolls refletem a nossa própria exclusão, além dos gêneros e do desejo, do que nos resta de humanos.
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Pedro Paulo Gomes Pereira (UNIFESP)
Tecnologias sexopolíticas e corpos queer
O corpo não é um dado passivo de um biopoder, mas potência que torna possível a incorporação dos gêneros. Os corpos queer (corpos esquisitos, estranhos, excêntricos, anormais), por exemplo, desestabilizam a heterossexualidade e a própria economia do poder; as tecnologias que objetivam produzir corpos normais e a normalização dos gêneros são, então, re-significadas. Os corpos queer promovem uma virada da força performativa dos discursos justamente na re-apropriação das tecnologias sexopolíticas, e entram no cenário atual como possibilidade de transformação na circulação dos discursos e na mutação dos corpos. Na busca de compreender esse processo de re-significação, este texto buscará analisar a pornografia, colocando questões como: como se configura esta tecnologia? Em que medida a "máquina" pornográfica é subvertida nas propostas pós-pornográficas? Quais as relações entre a pornografia hetero e o porno-queer?
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Renata Hiller (Grupo de Estudios sobre Sexualidades, UBA), Aluminé Moreno, Ana Mallimaci Barral
Chiruzas improvisadas. Conclusiones preeliminares a partir de una investigación con travestis/ Chiruzas improvisadas. Conclusões a partir de uma investigação com travestis
Una de las dificultades que enfrentan las comunidades travestis en Argentina es la invisibilidad de sus condiciones de vida, de los vínculos que establecen con instituciones públicas y privadas y de la sistemática violación de sus derechos humanos. Hacer un relevamiento sistemático de las condiciones de vida y de las posibilidades y dificultades en el acceso a los derechos de las travestis en Argentina permitiría revertir en parte dicha invisibilidad y servir como insumo a la elaboración de políticas públicas. A su vez, aportaría información valiosa para estudios que desde otras perspectivas abordaran el tema. Con esos objetivos participamos de una investigación sobre condiciones de vida de travestis en nuestro país.
Los principales resultados de ese relevamiento son presentados en este artículo. Además, pretendemos dar cuenta de algunas reflexiones surgidas de esta experiencia de investigación. Si las “chiruzas improvisadas” son aquellas travestis recién iniciadas, identificadas como novatas por otras travestis, nos colocamos en ese lugar para compartir algunas inquietudes, desconciertos y paradojas que atravesamos durante el trabajo de campo y en etapas posteriores.
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Raquel Lima de Oliveira e Silva (UnB)
Natureza e norma social nas cirurgias genitais em crianças intersexuais: a proposta de Diamond
Nos anos 90 foi publicado, nos EUA, um novo guia de manejo clínico para a intersexualidade. Dentre várias recomendações, destacavam-se: a espera pela decisão do paciente no que diz respeito a cirurgias corretoras da genitália; grande atenção ao acompanhamento psicológico de pais e pacientes; a introdução de temas como possibilidades variadas de práticas sexuais e a adoção enquanto forma legítima de ter filhos; a queda de termos como "desordem" ou "disfunção". Sabendo que a realidade intersexual brasileira em muito ainda se distancia da proposta elaborada nos anos 90, ainda que vejamos uma evolução razoável referente a idéia de apropriação do corpo do "outro" e à necessidade de participação dos pacientes do itinerário terapêutico, proponho uma reflexão sobre os limites entre as normas sociais e as categorias consideradas naturais nas escolhas tomadas por médicos e outros interventores do corpo no manejo clínico de crianças intersexuais. A comunicação se baseia na minha pesquisa de mestrado, que compara a proposta de manejo clínico de Milton Diamond, em resposta à conduta adotada por John Money no caso de David Reimer, ao que encontramos nos manuais médicos contemporâneos brasileiros.
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Shirley Acioly Monteiro de Lima (PUC-SP)
Intersexo: a vivência de um corpo 'ambíguo'
Dois anos e meio após entrevistar Bahia, uma pessoa diagnosticada como pseudo-hermafrodita masculino devido a deficiência da enzima 5 alfa redutase, ou seja, uma pessoa com sexo genético masculino que apresentou ambiguidade da genitália externa ao nascimento, foi socializada como menina e virilizou na puberdade, retomo contato para descobrir as mudanças ocorridas em sua vida após nosso encontro em Agosto de 2007.
Neste novo encontro, realizado em 26 de fevereiro de 2010, Bahia nos conta que não realizou a cirurgia corretiva agendada para Novembro de 2007, revisita acontecimentos passados e apresenta elementos de sua história recente que nos conduzem a compreensão de como o entendimento e vivência em seu corpo 'ambíguo' o: ajudaram a ultrapassar o estigma de uma carga biológica interpretada como problemática e estabelecer uma relação com o meio social que lhe seja mais favorável; possibilitaram acessar novos espaços sociais e influenciaram suas escolhas amorosas e sexuais.
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Giancarlo Fernando Cornejo Salinas (Pontificia Universidad Católica del Perú)
La guerra declarada contra el niño afeminado
“¿De qué te sirve ser un niño si vas a crecer para ser un hombre?” (Halberstam 2008:23).
El ensayo explorará en clave autobiográfica ciertos procesos de violencia y patologización contra los niños afeminados. Mi intención es rescatar conexiones y vínculos entre la transgeneridad y la homosexualidad. Y aquí solo podré dar pistas de cómo la patologización de la figura del niño afeminado crea un tropo discursivo que hace imposible disociar la transgeneridad de la homosexualidad.
El niño afeminado es el secreto a voces del activismo y pensamiento gay. Esto talvez se deba a un terror a la indeterminación de género. Finalmente disociar la homosexualidad de la (menos respetable) transgeneridad probablemente haya sido una de las formas en que la homosexualidad haya aparecido como menos amenazante.
Planteo que una de las primeras aristas subversivas de las infancias queer radica precisamente en su rechazo a la prerrogativa heteronormativa sobre la infancia como una “dulce espera” de heterosexualidad. Un niño marica es, en la línea de Stockton, el signo de la muerte de un niño heterosexual. En otras palabras, la cuna de un niño marica es la lápida de un niño heterosexual. Esto nos recuerda, que un niño marica es siempre culpable de matar al niño heterosexual que debió ser.
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Berenice Bento (UFRN)
Violência de gênero e o gênero da violência: o feminino como estruturante das margens
O feminino é o lugar do abjeto, impuro, contaminado e contaminável. No entanto, ao discutir o feminino não estou utilizando-o como sinônimo de mulher. As mulheres fazem parte de um campo emotivo e performático construído como abjeto, mas não se pode derivar daí o feminino como sinônimo de mulher Este lugar é parcialmente ocupado pelas mulheres biológicas. A violência contra os sujeitos identificados como femininos, afeminados, não se limita à mulher. A sistemática violência contra as mulheres tem uma relação profunda e direta com às cometidas contra os gays afeminados, às travestis, às transexuais. A discussão dessa relação será objeto desta comunicação.
Para entendermos a natureza da violência contra a mulher e sua persistente reprodução, não se pode circunscrever a análise ao feminino-mulher, mas ao feminino em suas tensões, conflitos e disputas discursivas com os múltiplos femininos e, simultaneamente, em relação aos masculinos. Apontarei níveis diferenciados de exclusão do feminino no feminino, sugerindo que é possível se pensar hierarquias internas ao feminino. Esta comunicação dialogará com os estudos queer e, principalmente, com pesquisas que discutem a travestilidade, transexualidade, gays afeminados e viris no contexto brasileiro.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Marília dos Santos Amaral (UFSC), Marcos Pippi de Medeiros
De madame à satã: as subjetividades retratadas na construção do corpo travesti
O presente trabalho discute a produção de subjetividades que transitam pelos fragmentos estéticos que compõem o corpo travesti. Os dados foram obtidos por meio de uma oficina de autofotografia proposta a seis travestis, na qual foram retratados os fragmentos estéticos da construção do que denominam montaria. Três encontros foram ocorridos e vinte e quatro fotos foram analisadas de acordo com a Análise Semiótica de Imagens Paradas, fundamentada teoricamente na construção genealógica da sexualidade de Michel Foucault e seus seguidores. Os resultados captados pelas imagens permitiram um pouco da apreensão das marcas da sexualidade e das subjetividades que, a fim de se defenderem, erguem seus processos de subjetivação, demonstrados nos fragmentos que sobrevivem a cada pincelada da transformação. Reafirma-se com isso, o entendimento de um lugar fronteiriço a que se destina às travestis. Espaço de retrato de subjetividades que refazem seu caminho por cada elemento impresso na fabricação da montaria.
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Simone Nunes Ávila (UFSC), Miriam Pillar Grossi (UFSC)
Maria, Maria João, João: reflexões sobre a transexperiência masculina
O presente estudo objetiva refletir sobre a produção da masculinidade na transexperiência masculina, aqui entendida como transexualidade masculina, que define os sujeitos designados biologicamente como mulheres, mas que se identificam, através da nominação, vestimenta e transformações corporais, como pertencentes ao gênero masculino. O trabalho apóia-se teoricamente na produção dos “estudos de gênero”, “estudos da masculinidade” (masculinities estudies), “estudos trans” (trans estudies) e na teoria queer. Partimos da constatação de que são praticamente inexistente, no Brasil, estudos sobre transmasculinidade e, por isso, nossa pesquisa busca investigar a emergência desta nova identidade trans no país. Analisaremos, nesta comunicação, a literatura produzida sobre transmasculinidade em países como França e Estados Unidos, articulando-a com algumas questões norteadoras de nossa pesquisa doutoral a respeito da invisibilidade desses sujeitos e dos mecanismos e discursos patologizantes, especialmente psiquiatrizantes, que aparecerem como pano de fundo desta questão, através do levantamento inicial da literatura biomédica e de depoimentos de informantes transmasculinos da região sul do Brasil.
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André Luiz Zanão Tosta (Unicamp)
Pensando identidades e políticas: notas sobre a constituição da “travesti” como sujeito político
Partindo da idéia de que os sujeitos políticos são invariávelmente constituídos dentro de contextos de legitimação e negociação, instituindo práticas e discursos que os fundam e os tornam representativos de certos grupos, pretendo pontuar os principais processos que instauraram e viabilizaram a identidade “travesti” como sujeito político legítimo. Pretendo ainda abordar suas relações e tensões com as demais identidades que compõem a militância LGBT. Analisar suas estratégias de representação no campo político e sua capacidade de mobilizar uma agenda de reivindicações que passa das políticas de enfretamento em relação as DST/AIDS para as atuais pautas em Direitos Humanos, culminando na Conferência Nacional GLBT de 2008.
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Jorge Leite Júnior (UFSCar)
"O patinho torto" – ciência, entretenimento e o trânsito entre os sexos e gêneros na cultura popular massiva brasileira no início do século XX
Em 1917, o dramaturgo brasileiro Coelho Netto, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, escreve a peça O patinho torto, na qual uma garota é levada ao médico por sua família e lá descobrem que, “na verdade”, ela era um homem. Segundo o autor, o texto foi baseado em fatos reais noticiados em um jornal da época, cuja chamada era: “As surpresas da vida”. Em tom de comédia popular, percebe-se que muitos dos conceitos científicos sobre sexo e gênero do período estão presentes nesta obra, tais como a noção de um “verdadeiro” sexo, a patologização do trânsito entre os gêneros e o surgimento do “pseudo”-hermafrodita fisiológico em oposição ao antigo hermafrodita mítico. Nesta peça, percebemos como a ciência dialoga com as concepções populares sobre sexualidade, sendo que ambas enxergam as pessoas “desviantes” ora como monstros, ora como objetos de riso e escárnio, mudando apenas o referencial teórico em cima do qual estas concepções são formuladas, racionalizadas e justificadas.
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Wiliam Siqueira Peres (UNESP)
Figurações nômades da subjetividade: o que pode uma travesti?
Esta comunicação se propõe a problematizar a respeito dos modos de subjetivação que subvertem as ordens normativas dos discursos de constituição do sujeito na trans-modernidade, que escapam das amarras do sistema sexo/gênero/desejo, que através da heteronormatividade e do falocentrismo determinam a produção do sujeito segmentado, binário e universal. Para tanto, tomamos a figura/imagem da travesti como categoria privilegiada de resistência e enfrentamento ao bio-poder, logo, ao sistema sexo/gênero/desejo, que promove potência e criação de novos modos de existencialização. A estética ética e política fundada pela expressão da travestilidade colocam em análise as estruturas sedentárias do pensamento e apresenta novos paradigmas para os modos de constituição do pensamento e das sensibilidades, gerando novos processos desejantes que solicitam uma revisão das teorias bio-psico-sociais reducionistas que se orientam pela lógica estruturante do indivíduo como unidade absoluta e indivisível. Surge assim, a enunciação de um sujeito nômade produzido por processos nômades que subjetivação que anunciam uma ética, estética e política de localização nômade na composição com a vida.
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